quarta-feira, setembro 18, 2024
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Um ano sem o Casarão Amarelo

Mogi Mirim é um município que tem uma tradição histórica altamente relevante, própria para que se possa desenvolver um centro de memória para agrupar os materiais que se preservam em acervos pessoais ou estão dispersos em museus e bibliotecas. O descaso do poder público com o valor destes documentos leva a uma lacuna para as novas gerações, que não distinguem na paisagem urbana quaisquer vínculos com o passado e com as tradições. Aos poucos, a Mogi mais antiga vai dando lugar às novas edificações, sem o menor esforço para garantir um mínimo de respeito às referências de tempos diversos.

Há um ano, a comunidade foi atingida por uma inestimável perda. Na surdina do feriado de aniversário de Mogi Mirim, o Casarão Amarelo na esquina do Jardim Velho veio abaixo em poucas horas, sacramentando a falta de respeito ao patrimônio e à memória da cidade. Em meio à poeira das paredes derrubadas, caía uma página da história mogimiriana, constrangendo seus autores e provocando no coração de cidadãos e historiadores um aperto e um sentimento de impotência diante da depredação inesperada. Ficou na memória o gesto solitário e ingênuo do artista plástico Tóride Celegatti, que, incrédulo, tentava resgatar algum pedaço significativo do imóvel em meio ao entulho.

Não foram poucas as vozes que se elevaram, não para impedir ou estancar as perdas, mas para tentar levantar os ânimos para que se crie uma legislação que ao mesmo tempo possa proteger o patrimônio e criar condições vantajosas para proprietários interessados em preservar aspectos relevantes de imóveis e espaços. O discurso se esvaziou, outros prédios foram derrubados, a paisagem se transformou e a história se perdeu, inexoravelmente.

Ainda persistem algumas pendências. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo, depois de uma longa pendenga, poderá ser reformada depois de um acordo para restaurar o que foi abalado com a construção do conjunto de apartamentos vizinho.

A Igreja de São Benedito pode ser preservada se vingar o trabalho de um grupo que se mobiliza para levantar recursos para sua restauração. Aqui e ali, por iniciativas particulares ou de entidades, parte importante da memória mogimiriana resiste, à espera de uma legislação ou de uma intervenção decisiva para que as futuras gerações tenham as referências maiores que somente a história viva pode legar.

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