O sonho de diversas crianças brasileiras sempre foi se tornar um jogador de futebol, mesmo na época em que o prazer de defender o clube do coração ou marcar um gol em um grande estádio era mais instigante do que a fama e o dinheiro proporcionados pelo mundo da bola. Em um país em que o esporte principal é o futebol, diante da cruel concorrência, poucos são os que passam pela estreita peneira do profissionalismo. Menos ainda alcançam um salário digno. Muitos sofrem com salários baixos, inadimplência e períodos de desemprego em uma carreira curta.
Em algumas cidades onde o futebol amador é tradicional, jogadores de talento que nunca tiveram uma oportunidade profissional encontram uma chance de fazer o que gostam sendo remunerados e até atuam ao lado de ex-profissionais. Mogi Mirim é uma dessas cidades, mas o pagamento é mal visto por ir contra a ideia de amadorismo.
Graças ao futebol, entretanto, cidadãos podem beneficiar a família com recursos extras e em alguns casos com benfeitorias como custeio de faculdade, plano de saúde ou até auxílio em obras. O desejo de montar um time melhor instiga o pagamento. A torcida pode ver jogadores de expressão, até porque se os clubes de Mogi não pagarem, podem ficar sem os principais atletas, que estão jogando cada vez mais em outras cidades, atraídos pelas ofertas vizinhas.
Como o pagamento já atingiu os clubes mais tradicionais, o ideal seria aceitar a realidade semi-profissional de Mogi, com a remuneração passando a ser feita de forma aberta e não escusa, como atualmente, e investir no fortalecimento dos campeonatos, até para brindar a torcida. Pensar em abolir o pagamento é uma utopia. Fugir da realidade é inútil diante da impossibilidade prática de uma fiscalização.
Por outro lado, a Liga de Futebol deveria ser independente. A Prefeitura, que repassa mais de R$ 85 mil em recursos para organização no ano, deveria cessar os investimentos e aplicar em outras modalidades, observando o esporte de forma mais ampla.
O futebol sobrevive sozinho. Em 2012, a Copa Rural foi organizada de forma independente. Para atender também os praticantes amadores, os campos poderiam ser melhores distribuídos, com outros torneios, de curta duração, até com times montados na hora.
É preciso aceitar a realidade da decadência do amadorismo e assumir a tendência do semi-profissionalismo. A cidade pode abrigar campeonatos pujantes, com movimento da economia e incentivo para os clubes atraírem patrocínios em busca de investimentos, valorizando os atletas e tornando os certames cada vez mais atraentes à torcida.