Causaram furor as declarações do presidente do Mogi Mirim Esporte Clube depois da derrota do time para o Ituano, no sábado. Revoltado com o que classificou como falta de apoio dos torcedores, o dirigente-atleta desabafou dizendo de sua revolta contra as cobranças em campo. Com palavras fortes, fez questão de relembrar episódio marcante da administração do ex-presidente Wilson Barros, que chegou a declarar não precisar da torcida para tocar o time. Com todos os pontos positivos de sua gestão, Barros amargou sempre a infelicidade do desabafo.
Rivaldo classificou sua intenção de vestir a camisa do Mogi Mirim Esporte Clube como um sacrifício que faz pela cidade e não vê reconhecimento por isso. Para aumentar a dramaticidade de sua fala, postou nas redes sociais foto tomando injeção de anestésico no joelho para poder jogar. E desafiou o torcedor: o dia em que houver 5 mil pessoas para assistir a um jogo do Sapo, ele mudaria o nome do estádio que hoje leva o nome de seu pai.
O destempero de Rivaldo não é novidade. Talvez a sua vida inteira a construir uma carreira consagrada no esporte tenha lhe prejudicado a compreensão dos fatos. Cobrar uma postura de torcida quando o clube perdeu totalmente o vínculo afetivo com a cidade é apenas uma forma de transferir a responsabilidade para uma persona indefinida, na imagem do torcedor.
Como exigir uma dedicação a um clube que muda sua estrutura e o quadro de atletas em cada competição? Como dissociar esta postura de um mercantilismo que hoje é natural no futebol brasileiro? Os clubes deixaram há muito de representar suas cidades.
O próprio Sapo teve adversários históricos em seu passado que eram conhecidos pelo nome das cidades que representavam, ou eram inegavelmente associados à sua origem, como Velo, de Rio Claro; XV de Jaú, XV de Piracicaba, Atlético de Araras, Palmeiras de Santa Cruz das Palmeiras, Botafogo de Ribeirão Preto, América de Rio Preto, Ferroviária de Araraquara e praticamente todos os outros exemplos possíveis. Antigamente era indissociável o clube de sua cidade, daí a paixão do torcedor do Interior. O que é hoje um Oeste, ou um Audax?
Rivaldo é hoje o dono de um clube que provavelmente teria fechado as portas não fosse sua intervenção. Teve tino empresarial e construiu legado que poderá ficar para seus sucessores.
Mas não está se sacrificando pela cidade nem tampouco pelos poucos torcedores que restaram para assistir ao resultado de seu investimento. Não fez isso quando anunciou que vestiria a camisa do clube, vendeu ingressos com este apelo e virou as costas para a cidade, jogando pelo São Paulo. Faz por sua vaidade pessoal, pelo apego exacerbado ao esporte. E com razão: isso é o que ele melhor sabe fazer.