Ferramenta utilizada na busca pela direção segura e inibidor de acidentes, os radares, móveis ou fixos, costumeiramente são alvos de reclamações e críticas de munícipes, que ao invés do benefício, enxergam nos aparelhos apenas um artefato responsável por arrecadar dinheiro aos cofres públicos e prejudicar o cidadão. O termo indústria da multa virou moda e é proferido a plenos pulmões.
Em Mogi Mirim, na quinta-feira, um caso curioso, para não dizer raro, ganhou os holofotes e virou motivo de inúmeros comentários. Um homem, com uma moto, ao melhor estilo caubói, com uma corda, laçou um radar móvel na Avenida Prefeito Luis Franklin Silva, no Mirante, próximo ao Clube Mogiano. A laçada, de tão perfeita, permitiu que o motociclista conseguisse arrastar o radar por cerca de 300 metros até a portaria do Serviço de Atendimento Móvel com Urgência (SAMU), onde abandonou a corda e o equipamento. O homem conseguiu fugir e não foi localizado.
Logo que a notícia se disseminou, após publicação de reportagem por O POPULAR em sua edição de sábado, o ‘peão do asfalto’ se tornou assunto por toda a parte, em demasia pelas redes sociais, como o Facebook e grupos no aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp. Como um rastro de pólvora, os elogios ao autor da façanha se tornaram comuns e vistos aos montes. Termos como herói e ídolo foram alguns dos elogios utilizados por munícipes, além de outras centenas de congratulações e homenagens ao caubói, que mesmo no anonimato parece ter se tornado figura ilustre na cidade, mesmo que por algumas horas.
Contudo, o que chama atenção é que essas ações de afeto levantaram a questão de o quanto hoje algo errado e contra os princípios morais torna-se motivo de aplausos. Indignados com aquilo que acreditam ser o errado, no caso a existência dos radares móveis e fixos na cidade, muitos se colocaram no lugar do peão e afirmaram que se sentiram honrados e ‘vingados’ por tal atitude. O problema é que tudo isso vai contra o que defende a legislação brasileira, que no caso do radar, enxerga o aparelho como algo responsável por levar maior segurança aos motoristas.
Se por um lado é preocupante verificar que a população dá de ombros para a legislação, por outro é positivo observar a autenticidade dos comentários. Os sujeitos contrários ao radar assumem a natural admiração pelo “herói”. Mesmo que até pensando nos próprios interesses, os cidadãos têm o direito de combater a legislação, mas deveriam usar os mecanismos corretos. Poderiam discutir o que consideram equivocado na lei e defenderem uma mudança. O radar é apenas um instrumento para constatar o abuso na velocidade permitida.
Se o cidadão é contra a multa e o limite de velocidade, a revolta deveria ser direcionada ao Código de Trânsito Brasileiro, com a defesa de liberdade de velocidade. É evidente que uma ação contra o radar é simbolicamente mais marcante, mas questionar, defendendo uma mudança e, em caso de protesto, rasgar o Código em vez de laçar o aparelho, seria uma maneira de demonstrar a insatisfação de forma mais direta para o que realmente são contrários. Afinal, muitos não percebem que na verdade estão contra a lei e não apenas contra um simples equipamento.