O Mogi Mirim Esporte Clube tem um bonita história que se confunde com a cidade que lhe empresta o nome. Ao longo de décadas, o clube foi o responsável pela construção de um patrimônio histórico, esportivo e imobiliário que merece respeito e reverência, por fazer parte da memória local. Não apenas com o futebol praticado por nomes que se tornaram ídolos de várias gerações, o Sapo foi um marco de conquistas e de dedicação de abnegados que se dedicaram a ele com paixão, até que chegou o fantasma da profissionalização e transformação em empresa.
Desde o fim da Era Barros que o clube passa por transformações que tem colocado um inconveniente distanciamento do interesse da cidade. Mesmo com erros e acertos, antes havia um quê de dedicação que não se pode negar aos dirigentes. Wilson Barros foi talvez o último da linhagem de uma paixão irrestrita pelo clube, agora encarado como uma empresa onde se buscam investidores e mercadoria para ser negociada com outros clubes maiores.
O ex-jogador Rivaldo, agora presidente da massa restante do clube, implantou um modelo de trabalho que resvala no desinteresse e na falta de identidade com a história do Mogi. Reeleito à frente do clube, afastou seu braço direito Wilson Bonetti, colocou esposa, filho, irmã e amigos próximos para compor o que é uma diretoria de fachada, apenas para cumprir o estatuto do clube. No fim, o Mogi Mirim é de Rivaldo, até porque todos podem imaginar o que aconteceria ao clube no caso de seu afastamento.
Mesmo com liberdade para tratar o legado do Mogi Mirim Esporte Clube, surpreende que o ex-atleta confesse total desconhecimento de uma situação financeira altamente comprometedora, que alega ter descoberto somente após o afastamento de seu procurador. Nesta semana, Rivaldo anunciou que o clube pode desistir de disputar o Campeonato Brasileiro e, possivelmente, o Paulista de 2015.
O empresário Rivaldo Borba Ferreira tem a liberdade de cuidar de seu patrimônio pessoal, decidir junto com seus amigos e familiares empossados o destino da empresa e até abandonar o clube. Mas não pode fugir à responsabilidade assumida de ser o presidente de um clube com tradição, história e patrimônio físico.
Se a situação do clube chega à insolvência, está na hora de o craque mostrar que não é bom somente com uma bola no pé. E, antes de virar as costas para a cidade mais uma vez, admitir que conseguiu em poucos anos manchar esta história, desrespeitar os torcedores, frustrar uma cidade inteira e ainda se fazer de vítima de sua própria inconstância.