A triste realidade dos moradores em situação de rua não está presente apenas nos grandes centros urbanos do país. Infelizmente, mesmo em cidades menores, essas pessoas são frequentemente vistas, seja perambulando pelas vias, nos semáforos, deitadas em bancos de praças públicas ou nas calçadas. Além de invisíveis à sociedade, sem qualquer perspectiva de um futuro diferente, elas ainda estão vulneráveis à violência das ruas.
Na manhã do último sábado, por exemplo, um morador em situação de rua foi encontrado morto em frente a um bar, no bairro Santa Cruz, região da zona Oeste. O corpo estava com marcas de sangue e diversas lesões. Pelas apurações policiais, o homem foi assassinado, aparentemente com golpes de faca. Um outro morador em situação de rua, suspeito de participação no homicídio, foi preso em flagrante. Uma pesquisa publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados de 2015, projetou que o Brasil tem pouco mais de 100 mil pessoas vivendo nas ruas.
O Texto para Discussão Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil aponta que os grandes municípios abrigavam, naquele ano, a maior parte dessa população. Das 101.854 pessoas em situação de rua, 40,1% estavam em municípios com mais de 900 mil habitantes e 77,02% habitavam municípios com mais de 100 mil pessoas. Já nos municípios menores, com até 10 mil habitantes, a porcentagem era bem menor: apenas 6,63%.
O assunto ainda é um desafio quando se trata de políticas públicas. Isso porque, muitas vezes, o próprio Poder Público, que deveria oferecer meios para resgatar a dignidade dessa população, acaba sendo o principal agente discriminador. Faltam ações que, definitivamente, melhorem a condição de vida dessa parcela da sociedade. A criação de abrigos e casas de passagem não resolve o problema. Embora tenham importância, não se trata de uma moradia ideal e nem a preferida, por vezes.
É preciso mais que o acolhimento dessas pessoas que estão nas ruas. O governo poderia pensar em capacitá-las, dando chances para a busca de um emprego e, assim, ajudar na evolução gradativa dessa população. Como todos os cidadãos, os moradores de rua têm direito à saúde, emprego, educação, moradia, etc. A própria sociedade precisaria quebrar esse distanciamento e parar de classificá-los como marginais inconvenientes.
Os moradores de rua não precisam de afeto e atenção apenas no inverno. Além disso, esse é um debate que não pode ganhar força somente quando existem vítimas de atos violentos, estampando as capas de jornais. Antes de tudo, são seres humanos que, como todos, sentem dor, fome, frio, medo, amam, têm frustrações e desejos. Eles só precisam é do seu olhar.