A vereadora Dayane Amaro age com inteligência e respeito às suas bandeiras quando decide estabelecer um protesto contra a falta de uma profissional intérprete de libras nas sessões. Libras é a Língua Brasileira de Sinais, utilizada para a comunicação com deficientes auditivos. Sem um profissional da área traduzindo o que os vereadores falam, eventuais deficientes auditivos que compareçam à Câmara ficarão no vazio, tendo cerceado o direito de receber as informações.
A maneira encontrada por Dayane para protestar é inteligente e está longe de ser radical. O radicalismo existiria caso se recusasse a expor seus posicionamentos. O protesto é o silêncio nas sessões, não se expressando com a fala. Porém, Dayane entrega aos presentes um papel com as ideias que falaria da tribuna. Desta forma, não deixa de se manifestar, mas substitui a fala oral pela escrita, permitindo que surdos fiquem por dentro de suas manifestações. Assim, ao mesmo tempo em que informa, mantém um protesto, que mesmo se não tiver a eficácia comprovada, ao menos serve como um chamariz para levantar a discussão.
Para se tornar ainda mais completo, embora possa ser inviável, seria melhor se Dayane apresentasse suas falas por escrito em dois modelos, um deles em braile para atender aos cegos, que em virtude de seu silêncio não conseguirão ter acesso a suas ideias, precisando do auxílio de alguém que faça a leitura. Uma alternativa futura, depois de um período de silêncio, poderia ser uma mudança de foco do protesto, com a fala acompanhada dos papéis, atendendo assim cegos e surdos.
Ao entregar a palavra escrita, Dayane se posiciona de forma até mais interessante que outros vereadores, pois permite que as pessoas levem para casa seus pensamentos e reflitam posteriormente. E ao mesmo tempo em que faz silêncio, Dayane também tem cobrado da presidência da Câmara a contratação de um profissional.
Além de o protesto ser referente à acessibilidade, bandeira defendida pela vereadora, que sente na pele as dificuldades por ser cadeirante, sua reivindicação é ainda mais virtuosa por um motivo simples: está baseada na legislação. A lei federal 10.098 assegura a acessibilidade em lugares públicos. Desta forma, como legisladora, Dayane tem mesmo o dever de defender o cumprimento da legislação e os demais vereadores deveriam seguir seu exemplo, disponibilizando também as manifestações por escrito. Poderiam ainda protestar igual ou de outras formas.
Independente da presença ou não de surdos na Câmara, uma casa de leis não cumprir a legislação é o cúmulo do absurdo e deveria ser motivo de constrangimento para os vereadores. O legislativo deveria deixar de encarar a questão com desleixo, adiando a solução, e passar a se empenhar para seguir a legislação, colocando ordem na casa.