O crescimento das cidades muitas vezes impõe uma mudança de hábitos e costumes que demoram a ser incorporados na rotina das comunidades, tendentes a manter imutáveis seus costumes, por tradição ou comodismo. O adensamento demográfico exige que se ocupem espaços de forma diferenciada, transformando a paisagem e a vocação dos locais, trazendo transtornos e alguns inconvenientes.
Áreas de características meramente residenciais se transformam em centros comerciais ou de escritórios de serviços, fazendo com que a população se desloque para outros pontos das cidades, mudando, por sua vez, a paisagem rural.
É preciso que, ao longo dos tempos, as disposições também mudem, que os novos hábitos se adaptem, para acomodar os interesses e as necessidades. É o caso, por exemplo, da Rua XV de Novembro, no Centro de Mogi Mirim, onde se instalou a polêmica sobre o seu fechamento ao trânsito. Para alguns comerciantes, a mudança é temerária e pode afetar os negócios; para outros, a transformação seria bem-vinda sob muitos aspectos. Para fregueses das lojas e moradores, também há fervorosos defensores de cada possibilidade cogitada.
A única certeza de toda a discussão é que nenhuma solução agradará a todos. Restará à Administração pesar os argumentos, estender o diálogo até a exaustão, fazer pesquisa de preferências e adotar medidas conciliadoras, na medida do possível. Em princípio, a intenção mais explícita – de deixar tudo exatamente como está – confronta com a realidade de uma rua que tem uma constituição anacrônica: o trânsito é complicado, as calçadas muito estreitas, com postes impedindo a passagem, o estacionamento é limitado, não há condições de acessibilidade e a aparência em nada remete à nostálgica história que tentam resgatar.
Argumenta um bem articulado grupo de comerciantes e moradores que a transformação do espaço em um calçadão dedicado ao trânsito de clientes das lojas seria prejudicial aos negócios e um atrativo para ambulantes e desocupados.
O que se tem de certeza é que os debates estão impregnados de predisposições, muito provavelmente pela falta de um projeto concreto e definitivo, que pudesse ser discutido. Até agora, o que se propõe são sugestões esparsas e localizadas, à espera de um projeto anunciado pela Associação Comercial e Industrial (Acimm) de revitalização do Centro da cidade. Acerta a Administração por enfrentar com coragem um assunto polêmico e que exige uma posição, mesmo que controversa, que vem sendo adiada há décadas.
Outra certeza é que mudanças deste naipe nunca deveriam acontecer em momentos como o atual, de muito movimento no comércio, como a tentativa de fechamento da rua na noite de segunda-feira, justamente quando as lojas passaram a atender com horário estendido. Impor condições e fechar-se ao diálogo não facilita o convencimento nem quebra disposições em contrário.