Corintiano fanático, Valdecir Camargo, o Val do Pastel, recorda a aventura de ir sozinho ao Japão assistir ao título mundial conquistado pelo Corinthians, em 2012.
Boteco – Como foi a decisão de ir sozinho ao Japão?
Val – Assim que ganhou a Libertadores, eu cheguei em casa, entrei na Internet e já comprei. Foi na hora.
Boteco – Depois teve uma turma que foi né?
Val – Teve, eu até sabia, mas preferi ir sozinho mesmo.
Boteco – Mais gostoso?
Val – Mais aventura, né? Depois, os caras iam para ficar em hotel… Fiquei na casa de um cara que conheci na Internet, bem mais em conta. Eu procurei na Internet alguém do Japão, localizei. Aí perguntei pro cara se ele sabia de algum hotel mais em conta. Ele falou: “minha casa”.
Boteco – Como você procurou?
Val – Pelo Facebook (risos), eu fui procurando, aí adicionei um e perguntei. Ele era brasileiro, faz 20 anos que está no Japão. Ele falou: “pode vir”.
Boteco – Você não ficou com medo?
Val – Eu fui meio cismado, pensei: vou chegar lá, se eu ver que não é ambiente pra mim, vou embora. Mas cheguei, tudo arrumadinho, tirou os filhos dele do quarto, passou pro quarto com ele e ficou o quarto pra mim.
Boteco – Não pagou nada?
Val – Nada, nem um centavo, ele foi me buscar no aeroporto. Só que o duro foi chegar lá e dormir no chão. Lá não usa cama, lá é futon, tipo um colchão no chão, pequeno. Aquele dia foi bravo dormir no chão, um frio.
Boteco – Como foi a adaptação?
Val – Peguei uma gripe forte por causa do frio. Quatro, cinco graus abaixo de zero. Primeiro jogo tava caindo neve, tinha que ficar de cobertor nas costas, luva na mão. Meia na mão. Todo apartamento tem os aquecedores a querosene. Se não ligar aquilo lá, você endurece.
Boteco – E alimentação?
Val – Horrível. Não me adaptei. Comia só lata de feijoada Bordon. Fiquei 19 dias, comi umas 12 latas.
Boteco – Ia em ponto de encontro de brasileiros lá?
Val – Tem um restaurante em Okazaki, todo jogo do Corinthians, eles reúnem lá. Jogo aqui é 4 da tarde, lá é 4 da manhã. Tem muitos corintianos, uns 14 mil corintianos lá da Gaviões, então tem jogo, juntam uns 500, 600 corintianos.
Boteco – Você tentava falar com os japoneses?
Val – Não conseguia, eu só falava wakaranai, que é não compreendo. Tudo que eles falavam, eu falava wakaranai.
Boteco – O que mais te impressionou?
Val – A cultura, não querer tirar proveito. Um dia um cara achou a maior nota que tem no Japão e saiu perguntando, balançando o dinheiro, perguntando quem tinha perdido. Imagina isso no Brasil se alguém ia sair balançando nota?
Boteco – E a comemoração?
Val – Em Nagoya, o jogo acabou lá 9 e pouco da noite. Ficamos até 6 da madrugada. Só churrasco. Cada um leva um pouquinho de carne e umas cinco latas de cerveja. Música, CD do Corinthians, Gaviões. Depois eu fiquei mais uns cinco dias lá, aí bateu vontade de ir embora. Todo mundo voltando…
Boteco – O que você ficou fazendo lá depois?
Val – Fui conhecer Monte Fuji, pontos turísticos.
Boteco – O dono da casa te acompanhou?
Val – Opa, onde eu estava ele estava junto, ele estava desempregado, seguro-desemprego (risos). Dei sorte ainda.
Boteco – Val volta para relembrar o medo vivido em outra aventura, em La Bombonera, na Argentina, na final da Libertadores de 2012 contra o Boca Juniors.