No último capítulo de seu bate-papo no Boteco, o ex-profissional Valmir recorda a noitada no ano do título de campeão da 2ª Divisão do Mineiro, pelo Rio Branco, de Andradas, sob o comando do técnico Serrão, em 1998.
Boteco – Alguma história divertida com o Serrão?
Valmir – Eu tô louco com ele, que um dia ele me multou em 40% lá. Saímos para comer pão de queijo, só que o pão de queijo atrasou, chegamos 2 horas, ele na sala.
Boteco – Duas da?
Valmir – Madrugada.
Boteco – Problema foi o pão de queijo (risos)?
Valmir – Era, pessoal convidou a gente para comer pão de queijo depois do treino, uma galera, lá em Minas, pão de queijo toda hora, chegamos 2 horas e ele na sala. Pão de queijo demora para assar, né? Até que assa, assa, assa, deu 2 da madrugada. Chegamos na sala, ele não falou nada. Ele nem morava lá, morava no hotel. Tinha uns 8, uma galera.
Boteco – Ele ficou sabendo que vocês tinham saído?
Valmir – Ficou. Aí ele no reloginho, não falou nada. Foi embora.
Boteco – Chegou todo mundo alegre?
Valmir – Todo mundo bacanão, né? Aí o holerite do próximo mês, 40% a menos, ninguém nem chiou. A gente tava numa fase já de classificação, jogo importante, ele ficou um veneno.
Boteco – Tinha treino cedo?
Valmir – Tinha. Aí fica aquele jeitão. Você questiona (a diretoria), mas por que este desconto? Porque você chegou 2 da madrugada, o horário limite é 10. Que argumento você tem? Nenhum. Depois ele (Serrão) falou, ele deu mesmo pro cara sentir. Foi o ano que foi campeão. Se ele não dá aquele tranco naquela hora, vira bagunça, aí era só noitada.
Boteco – Geralmente os melhores do time são os que saem?
Valmir – Geralmente são os que resolvem e não tem como tirar. No Uberaba, o nosso centroavante, Ademar, até jogou no Mogi. Todo sábado, ele sai, volta de táxi, carregado para concentração. Dorme, não come nada, toma um lanche, vai pro jogo. Arrebenta com o jogo, faz gol.
Boteco – E quando ele chega, todo mundo vendo?
Valmir – Todo mundo vendo, normalzinho. O treinador aceitava porque ele resolvia. Ele falava: “Se eu não sair, eu não jogo bem”. Chegou um treinador de Goiás, linha dura. “Ademar, a partir de hoje, seu horário é 8 horas dentro da casa, você não mora com a família aqui, cumprir horário”. Cumpriu. Treinador chegou com moral. Não fazia um gol o Ademar, nada, nada, jogava mal. Sabe o que aconteceu? O diretor falou pra ele: “O Ademar você libera”. “Ah, mas não”. “O Ademar você libera. Ele sempre fez isso, pode liberar que eu assumo”. Meu amigo, era gol toda hora, Uberabão ficava pequeno pra ele. Não sei se era o psicológico do cara, dava certo.
Boteco – E o técnico?
Valmir – Aceitou. De repente, nem tá querendo, mas tem que dar aquela risadinha, achar que tá tudo bem, o cara tá resolvendo. Ele falava: “Se eu não sair, eu fico como uma nhaca monstra”. E ficava mesmo. Ele ia pra noite, brother, ele arregaçava, jogava pra caramba, fazia gol. É do cara, o cara resolve, tem que deixar o cara.
Boteco – Valeu, Valmir!