Valter Abrucez
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Invariavelmente, ouço o jornalista Ricardo Boechat na Rádio BandNews FM, em transmissão simultânea com a Band TV, logo pelas sete e meia da manhã. Nem sempre me simpatizo com Boechat, mas não há como negar, a meu juízo, tratar-se de um dos raros jornalistas de rádio e televisão com conteúdo que vai além das generalidades e abusos da indignação das pessoas.
Acho que o jornalista até se esforça, mas acaba quase inevitavelmente caindo no mesmo tema: a corrupção. A Lava Jato é prato quase diário, seja por fatos novos, seja por qualquer outra razão. Aliás, agora apareceu outro caso cabeludo, em que é constatado um rombo de R$ 19 bilhões na Receita Federal, obviamente por conta de gente graúda.
Então, é natural que a pauta dos escândalos resista e ocupe o topo das páginas dos jornais e o primeiro lugar na escalada dos jornais de televisão.
Certamente, o verbete corrupção deve estar no pico das menções em todas as vertentes de mídia, bem como na boca dos cidadãos em geral. É uma palavra feia, não é mesmo? Já sonoramente ela é pesada, agressiva, atemorizante. Com uma exclamação no fim então – “corrupção!” – soa como uma ameaça, um advertência, algo semelhante à mira de um revólver apontando em nossa direção.
Na esteira desta observação, penso que os nossos dias, por causa desta tal palavra, andam pesados, sisudos, cinzentos. Senta-se no bar para um uísque e algumas Brahmas e parece que o garçom traz, junto com o cardápio, a pauta da corrupção a ser abordada na conversa dos convivas.
Como dizia Adoniran Barbosa, “nós viemos aqui para beber ou para conversar”? Para as duas coisas, subverto a exortação do poeta paulistano. O raio é que não se consegue conversar de outra coisa. Exceto, claro, quando o Palmeiras ‘oleia’ o São Paulo (oleia acabei de inventar agora, por ter sido o que o Verdão fez com o finado Soberano: deu olé).
Essas coisas me ajudam a amenizar os temores que cultivo em relação à dengue. É cagaço mesmo. Portanto, driblo a paura refletindo com essas futilidades que escrevo aqui.
Nessa enxurrada de divagações, lembrei-me de um cartaz de um bar, com o seguinte aviso: “não pode entrar bêbado; sair pode”. Ora, pensei cá comigo, não será uma ideia interessante e provavelmente inédita se algum dono de bar decidir estabelecer algumas regras pétreas (portanto imutáveis), da seguinte ordem: “nesta sacrossanta casa destinada à prática dos prazeres de Baco, o rei da ebriedade, é expressamente proibido conversar sobre corrupção, nada impedindo, todavia, que o garçom ou o maitre possam ser corrompidos a aumentar a dose do uísque ou matar umas cervas da conta”.
Acho que assim ficaria bem. Se alguém resolver adotar a ideia, esteja certo de que nada vou exigir por ela, senão uma ligeira propina a combinar.