sábado, novembro 23, 2024
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Vamos falar sobre independência

Na última quarta-feira o brasileiro curtiu um dos feriados que unem a nação. Afinal, o 7 de Setembro é uma das datas celebradas em todo o país, seja com atividades cívicas ou pura e simplesmente com o descanso que este tipo de dia reserva à nossa agenda. Foi uma quarta de verde e amarelo em ruas, carros, motos e até mesmo em algumas casas.

E como nunca é demais falar sobre independência, vamos lá. Primeiro sobre a data em si. Estamos no bicentenário da emancipação do Brasil, da quebra do vínculo com Portugal. É óbvio que a data é marcante, é mais óbvio ainda, que é fundamental que se respeite Dom Pedro I, seu sucessor e tudo o que o decoro com chefes de estado indica.

Mas, que não nos esqueçamos que a independência não fez, por exemplo, o país se desapegar de seu pecado original: a escravidão. Pelo contrário. Os números indicam que o tráfico de pessoas arrancadas de seus países, de suas famílias, de tudo o que construíram aumentou após o Brasil se desprender de Portugal.

Oras, entre os apoiadores do “golpe” que Dom Pedro deu em sua família estavam não apenas senhores de escravos, que eram os grandes poderosos da época, mas também traficantes de escravizados, como o Comendador Joaquim José de Sousa Breves, que durante o Império ficou ainda mais rico, garantindo anos e anos de herança aos seus familiares com o sangue, o suor e a vida de negros tirados à força da África e que, por muito tempo, passou por cima de leis nacionais que proibiam o tráfico negreiro, mesmo que o próprio Império fizesse vista grossa com tais regimentos, como a famosa ‘Lei para Inglês ver’.

Por óbvia falta de espaço, não vamos falar sobre os 200 anos que se seguiram após o 7 de setembro de 1822. Mas podemos falar sobre o setembro de 2022. Após dois séculos, a grande parcela da população segue com fome enquanto uma minoria de poderosos continua sendo os raros casos de independência neste país.

Enquanto usam e abusam de datas cívicas, de símbolos nacionais, para por em debate pautas que interessam a este ou aquele grupo, fica cada vez mais claro que o Brasil precisa pensar de forma mais humana, coesa e focada em garantir uma vida digna para aqueles que não têm as mesmas oportunidades do que uma minoria privilegiada.

É preciso gritar, à beira do Ipiranga ou de qualquer outra margem plácida por liberdade, principalmente daqueles que sempre estiveram escanteados no país que desenvolveu riqueza a poucos graças ao esforço de escravos.

Que 522 anos depois de ser invadido pelos europeus e 200 anos depois de se desvincular politico-administrativamente dos portugueses, o Brasil possa ser, finalmente, de todos os brasileiros. Todos!

Sempre prezando pela ordem, pensando no progresso de todos e não em conservar os privilégios dos mesmos e focando no amor, o terceiro lema positivista que foi deixado de lado na confecção da bandeira nacional, mas que é o que mais precisamos em um momento em que cresce o ódio contra o irmão que pensa diferente do irmão. É hora de um verdadeiro viva ao Brasil. Viva. Não morte!

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