A realidade do sistema político brasileiro é marcada por uma capitalização de interesses, troca de favores e benefícios próprios que muitas vezes se tornam responsáveis por deixar o bem do cidadão para segundo plano em boa parte das ocasiões. Isso não é a totalidade, mas representa fatia significativa deste cenário, caracterizado ainda por uma divisão quase que onipresente em qualquer bancada, seja a nível municipal, estadual ou federal. Situação e oposição se confrontam ao longo dos mandatos na busca pela vitória. Ou simplesmente pelo prejuízo deste ou daquele partido, jogando o voto do eleitor na sarjeta. Em Mogi Mirim, tal realidade não é diferente.
Existe uma clara falha no papel de diversos vereadores. Se a função principal é legislar pelo povo, requerimentos, projetos de lei e o entendimento na forma administrativa, política e, por que não, jurídica, deveriam ser a lição de casa de qualquer edil. Nas últimas semanas, o que se percebe na Câmara é que, em várias situações, o voto de projetos relevantes tem muito mais peso político do que técnico.
O projeto de lei que pedia a criação de um cargo de Controlador Geral do Município, exigência do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, foi transformado em palanque político por inúmeros edis, especialmente da ala oposicionista, que, mesmo com uma determinação de um tribunal que avalia e aprova as contas municipais, venderam a ideia de que aquilo era inócuo e só consumiria mais dinheiro dos cofres públicos.
Pior foi o projeto de lei que reorganizava secretarias municipais, desmembrando a de Trânsito, Transporte e Serviços para a de Mobilidade Urbana. A proposta foi exposta como se uma nova secretaria estivesse sendo criada na conjuntura administrativa, gerando mais gastos à Prefeitura. Coube ao vereador Gerson Rossi dar um sabão nos que criticavam e explicar o real motivo para a votação do projeto.
Até requerimentos apresentados à Mesa Diretora cobravam explicações de projetos que já estão ou estavam na pauta de votação, mostrando total falta de atenção e alienação de parte dos vereadores.
Como disse Cinoê Duzo, é preciso respeitar o ponto de vista de cada edil, já que vivemos em uma democracia. Porém, é obrigação de todos os 17 vereadores compreenderem cada detalhe e a real intenção de projetos de lei.
Não entender, informar de forma equivocada e passar a ideia distorcida à população, por puro interesse político, não parece ser a melhor postura para alguém que representa o povo. Se fazer de bobo ou inocente soa como hipocrisia. A política precisa ser encarada de maneira séria e muito mais do que apenas situação ou oposição. A mentalidade deve mudar. O problema da política não é o sistema em si, mas sim quem faz parte dela.