Curado de paralisia e cegueira, o cicloturista Antonio Rogério do Nascimento, o Neguinho do Asfalto, iniciou aos 14 anos o pagamento de uma promessa a Nossa Senhora Aparecida de que pedalaria por 30 anos pelo mundo afora se conseguisse a cura. Na segunda-feira, Neguinho, hoje aos 37, chegou a Mogi Mirim, vindo de Pouso Alegre, de onde saiu de madrugada. Depois, dormiria no hotel antes de partir para Campinas.
Já são 23 anos pedalando. Natural de Corumbá, Mato Grosso do Sul, Neguinho iniciou a missão de sua cidade rumo à Bolívia, em 1º de fevereiro de 1991. Então percorreu a América, passando por Venezuela, Equador, Colômbia, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Guiana Francesa e México. No México, ficou 10 dias até conseguir uma passagem para Angola fornecida pela Embaixada do Brasil. Na África, pedalou por Angola, Moçambique, Luanda, Senegal e Gana. Voltou ao Brasil, passando agora por Manaus, Belém, Teresina, Palmas, Natal, João Pessoa, Fortaleza, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Belém, Acre e São Paulo.
Agora, Neguinho pretende partir para Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Marabá-PA e viajar de avião ao Canadá, para então pedalar até os Estados Unidos completando sua missão, com fim programado para 2022. Ao final, pretende parar de pedalar e se dedicar à escrita de suas aventuras. Já está produzindo um diário, com projeto de virar livro.
Até hoje, já foram 225.768 quilômetros rodados, sete bicicletas e 325 pneus trocados. “Não aceito carona de ninguém”, revelou.
Cura
A cura de Neguinho foi aos 13 anos, depois de viver no hospital internado. Além de cego e paralítico, tinha problemas pulmonares e no rim. “Era problema de nascença, meu pai e minha mãe eram irmãos e não sabiam. Quando descobriram, se mataram”, conta.
Para se curar, Neguinho passou por um transplante de córnea e fez uma cirurgia nas pernas. “Foi um milagre de Nossa Senhora Aparecida”, comemora.
Neguinho sobrevive com doações do povo
Como vive apenas para pagar promessa pedalando, sem recursos, Neguinho do Asfalto sobrevive de doações da população dos locais por onde passa. Pedala diariamente das 4 da manhã às 18h, quando pausa para descansar e dormir em pousadas ou na rua.
Em um compartimento da bicicleta, leva roupas e uma barraca.
Além de não ter fonte de renda, Neguinho ainda é assaltado eventualmente. Em Mossoró, tomou um tiro e uma facada e perdeu a bicicleta. A população fez uma vaquinha para a aquisição da nova. Antes, fazia fotos com uma máquina fotográfica, que roubaram. Agora, tira fotografias com um celular.
O ponto positivo das aventuras é conhecer culturas variadas, mas sofre preconceito.
Em Mogi Mirim, foi bem recebido. Acabou conhecendo o ciclista Jorge Plutarco, que ao vê-lo passar pela rua reconheceu que se tratava de alguém com uma proposta diferente. Ambos aproveitaram para conversar sobre viagens de bicicleta.