sábado, novembro 23, 2024
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Vício do esporte e desejo pelo ouro olímpico seguram Poliana nas águas

Embora com a sensação de dever cumprido com a conquista de uma medalha olímpica, objetivo que faltava para coroar a carreira, a nadadora Poliana Okimoto, aos 33 anos, ganhou fôlego para prosseguir. O vício do esporte, responsável por retardar o encerramento de carreiras, e o sonho de ser campeã das Olimpíadas movem Poliana a seguir para um novo ciclo em busca do ouro nos Jogos de Tóquio, em 2020. “São as duas coisas juntas. Eu tenho vontade de ser campeã olímpica e também tem o vício da competitividade”, resumiu, em entrevista aos jornais O POPULAR e Grande Jogada, no dia 12, no Clube Mogiano, onde realizou um treino, foi homenageada e exibiu a medalha olímpica. “Meu esporte como é de resistência, dá um lastro grande para o atleta. Eu acho que se eu quiser eu consigo ir até 2020 e é minha grande vontade”.
O desejo de continuar faz a nadadora adiar no mínimo por mais quatro anos o projeto da maternidade, traçado em conjunto com seu marido e técnico, o mogimiriano Ricardo Cintra. “A Manuela vai ter que esperar mais. Está difícil de vir”, brincou, em referência ao já escolhido nome no caso de ser uma menina.
O bronze nos Jogos proporcionou uma sensação de realização. “Era um sonho de vida e profissional”.
Caso não conseguisse a medalha, a nadadora não sabe se teria forças para prosseguir, mas não sairia frustrada pela sensação de ter feito o melhor no Rio. Neste sentido, frisa ter se motivado a seguir não apenas pela conquista, mas por ver o resultado do trabalho de quatro anos: “Me dá perspectiva para conseguir mais. Não é parar por aí, dá para olhar mais pra frente”.
Em 10 de dezembro, a atleta será homenageada com a prova de 10 quilômetros do Rei e Rainha do Mar, no Rio de Janeiro. O próximo foco da nadadora é o Mundial de Esportes Aquáticos, de 2017, já conquistado por Poliana e considerado a competição mais importante depois das Olimpíadas.

Clube
No dia 12, na presença da nadadora, o Clube Mogiano inaugurou uma sala para o departamento de natação, na área do Parque Aquático, que recebeu o nome de Poliana Okimoto. A ideia é centralizar na sala os assuntos do Parque, evitando que associados precisem se locomover até a secretaria para tratar de temas relacionados à natação. Antes da inauguração, Poliana distribuiu autógrafos e posou para fotos com a medalha de bronze das Olimpíadas. Curiosos tiveram o privilégio de sentir o peso da medalha.
Guardada em uma caixa e protegida por um lenço, a medalha é cuidada com esmero pelo técnico Cintra.

Poliana Okimoto realizou treinamento no Clube Mogiano, no dia 12, antes de ser homenageada
Poliana Okimoto realizou treinamento no Clube Mogiano, no dia 12, antes de ser homenageada.(Foto: Diego Ortiz)

Rótulo de velha: inimigo incansável, porém frágil

Desde quando decidiu se aventurar na maratona aquática, Poliana administra a pressão de conviver com o rótulo de “velha”, um inimigo incômodo, mas incapaz de segurar o ímpeto vencedor da nadadora. Uma teoria é que o rótulo possa estar vinculado ao fato de Ana Marcela, outra brasileira da modalidade, ser mais jovem: “Eu sempre tive que engolir muita coisa. Desde 23, 24 anos, eu sou velha”.
Poliana lembra que nas Olimpíadas de 2012, em Londres, quando teve a frustração de abandonar a prova por hipotermia, a idade foi muito falada. “Queriam me aposentar ali. E aí em 2013 eu ganhei o ouro na prova olímpica no Mundial. E saí com três medalhas. Ali foi um tapa na cara de todos que falavam que eu estava velha. E aí eu ouvi de novo tudo isso agora para essa Olímpiada”, contou.
Embora se incomode, Poliana garante não usar as críticas para se motivar, pois foca a alegria. “Esquece críticas e vamos fazer por nós. Dessa forma a gente faz mais feliz e entra na prova de uma maneira mais leve”, explicou, apontando este fator como importante para o sucesso. “Eu fiz a melhor prova da minha vida. A minha preparação foi impecável. Fazer os meus melhores tempos nos treinos, tempos de piscina que eu fazia com 20 anos, fazer com 33 e melhorar esses tempos foi incrível”, celebrou.
Questionada do ponto de vista técnico qual a influência da idade, Poliana explica que a diferença está nos treinos e não na prova, pois precisa de um tempo maior para recuperação entre um treinamento e outro. Porém, a qualidade dos treinos é melhor pela experiência: “Hoje eu me sinto muito melhor do que quando tinha 23 anos”.
Hoje, Poliana consegue ajudar o técnico Ricardo Cintra na montagem do treino, mas o esforço é calculado. “Se com 23 anos eu conseguia treinar 20 quilômetros tranquilo, hoje não é bem assim. Nós treinamos para as Olimpíadas 20 por dia, mas foi naquela de um dia de cada vez. Planejando aos poucos”, explicou.
Se a recuperação é mais lenta, por outro lado, houve uma evolução na suplementação, nutrição e qualidade do sono. “Eu tenho a cabeça de saber que preciso dormir no mínimo oito horas por dia. Então, o conjunto é melhor e faz com que eu treine melhor e recupere melhor”, ressaltou.
Já no dia da prova, Poliana explica não haver como dosar, pois já chega preparada para o que for necessário, variando apenas a estratégia adotada, independente da idade.

“Não muda nada”, percebe Poliana, sobre medalha

A expectativa após a conquista de uma medalha olímpica em relação a uma exposição maior na mídia e a abertura de portas para obtenção de patrocínios acabou frustrada. “Quando a gente pensa em um medalhista olímpico, a gente coloca a pessoa no altar, parece que o cara é um herói. E quando a gente ganha medalha, no dia seguinte a gente é a gente mesmo, não muda nada”, observou Poliana.
Se não bastasse a crise financeira nacional, os escândalos na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) ajudam a prejudicar patrocínios, especialmente o dos Correios, que não foi renovado. Agora são aguardadas as eleições da entidade, em janeiro.

Conquista da medalha olímpica ainda não foi revertida em patrocínios, lamenta Poliana. (Foto: Diego Ortiz)
Conquista da medalha olímpica ainda não foi revertida em patrocínios, lamenta Poliana. (Foto: Diego Ortiz)

No ciclo olímpico, Poliana contou com a melhor preparação da carreira devido à estrutura oferecida por intermédio do Projeto Medalhas, da CBDA, patrocinado pelo Correios. A nadadora teve custeados serviços de fisioterapeuta, massagista, nutricionista e preparador físico por 3 anos. “A estrutura que me deram, em momento nenhum da minha carreira eu tive. Esse foi o diferencial para esse último ciclo”, apontou.
O ideal é ter a equipe completa durante quase todo o ciclo, mas Poliana perdeu todos os profissionais com a não renovação do contrato. A nadadora agora tem que arcar com as despesas, o que está fazendo com o preparador físico, enquanto busca e torce pela atração de patrocinadores.
Por outro lado, festeja um aspecto transformador da conquista, ao considerar ter vencido mais pela dedicação do que pelo próprio inegável talento. “Foi bom para dizer para as meninas que se lutar, acreditar e não desistir nunca, dá. Esse é o grande legado dessa medalha”, refletiu.

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