Em decisão inédita, Santa Luzia e Vila Dias fazem o jogo de ida da final da Copa Gerson Luiz Frezzato, o Campeonato Amador, neste domingo, às 15h15, na Santa Cruz. A arbitragem será de Claudemir Adorno. O jogo de volta será no domingo seguinte, às 16h, no Tucurão. Em caso de dois empates ou vitória e derrota pela mesma diferença de gols, a Santa Luzia é campeã em virtude da melhor campanha. As torcidas serão isoladas por uma corda e deve haver policiamento da Polícia Militar e Guarda Municipal.
O jogo reúne o ataque mais positivo, da Santa Luzia, com 23 gols marcados, e a defesa menos vazada, da Vila, com 11 sofridos. Líder da primeira fase, a Santa Luzia atropelou o Santana nas semifinais, com goleadas por 6 a 0 e 4 a 0. Vice-líder da primeira fase, a Vila avançou com vitória e derrota por 1 a 0 contra o Unidos do Inocoop, aproveitando a vantagem de dois resultados iguais.
A Santa Luzia não pretende administrar a vantagem, mas sim manter o estilo ofensivo até pelas características de jogadores como os meia-atacantes Bruninho Seriani e Tico. “Fizemos uma reunião e a rapaziada não quer empatar”, explica o técnico Anderson Turco, lembrando que a vitória dará mais tranquilidade no jogo de volta.
Prevendo uma decisão equilibrada, Turco vê times com estilos diferentes, com a Vila pautada pela experiência e a Santa Luzia baseada na juventude. A preocupação de Turco é especialmente com Luciano Bridi, Jefinho e Kanu. “A Santa Luzia talvez possa estar com mais vontade porque muitos nunca foram campeões. E o time está 28 anos sem ser campeão, queremos ganhar para entrar para história. O Corinthians entrou para história ganhando o Paulista quando saiu da fila”, comparou, em referência a 1977.
A Santa Luzia disputou apenas uma final em sua história e foi campeã, em 1986. A Vila Dias, que tem 11 finais no currículo, incluindo as duas últimas, é cinco vezes campeã, a última em 2012.
Técnico da Vila, Zito joga o favoritismo para a Santa Luzia pelo fato de o time deter a vantagem do empate e ter vencido a Vila duas vezes. “Vamos tentar ver se conseguimos pelo menos perder de pouco para depois tentar no outro jogo. Se nosso time estiver completo, conseguimos igualar”, frisa Zito, que espera os retornos do zagueiro Du Cavalo e do atacante Bruno Augusto.
Confiando na experiência de seu time, Zito torce para os jovens da Santa Luzia sentirem o peso da final.
Kanu e Neneca: irmãos em lados opostos na final
Ex-zagueiro profissional, Neneca começou a brincar de bola na infância, no portão de casa, como goleiro, defendendo os chutes do irmão Kanu, 6 anos mais velho. O apelido foi inspirado no ex-goleiro do Guarani. Nas brincadeiras, sempre jogavam no mesmo time. Em 2013, defenderam a Vila Dias, vice-campeã do Amador. Desta vez, o destino colocou os irmãos em lados opostos. Com 1,91 metro, o zagueiro Neneca, da Santa Luzia, terá pela frente o atacante Kanu, da Vila, de 1,89. “Um já conhece o estilo do outro, vou tentar ir pro outro lado”, conta Kanu, lembrando, porém, que por jogar centralizado não haverá muito como fugir do irmão. “Vai ser interessante”, reconhece Neneca, admitindo uma motivação especial até para evitar a gozação em família.
Em casa, a família fica em cima do muro, mas já está feliz, pois de alguma forma será campeã. “Eles tiram sarro, perguntando quem vai entregar, meu pai vai ver o jogo”, conta Kanu.
Bicampeão pela Cecap, Kanu foi vice nas duas últimas finais. Em busca do primeiro título da elite, o caçula não esconde a admiração pelo irmão. “Até hoje me inspiro nele, pela liderança e postura”, reveça Neneca, conhecido pela tranquilidade na defesa.
Na final, Kanu pretende esquecer o parentesco. “Temos que levar como um adversário qualquer, se a gente se preocupar com o lado afetivo nenhum dos dois joga”, resume.
Música e futebol: finalistas se envolvem com mescla
A harmonia entre música e futebol é vivenciada pelos finalistas, especialmente por dois compositores com experiência no mundo artístico. As agremiações inspiraram composições recentes em homenagem à Santa Luzia, pelo centroavante Goiano, e à Vila Dias, do lateral Vando.
A música de Goiano, Santa Luzia é gol, deve ser entoada pela torcida neste domingo. Já Amor Vermelho e Branco, de Vando, aguarda a inspiração para uma melodia para chegar às arquibancadas. A Santa Luzia já tinha um funk composto pelo zagueiro Jordan.
Futebol e música estão intimamente relacionados, observam os compositores. “Os dois são arte e precisam da cabeça estar boa. Um gol, um toque são notas musicais de uma composição. Cada jogo é uma música. E quando eu entro em campo é como se estivesse subindo no palco”, compara Goiano. “Os dois são alegria. O bem-estar do futebol é que nem compor, quando sai o primeiro refrão, saem as frases, a música vai sendo formada e no final você não acredita que fez aquilo. É a inspiração e o improviso total. Música é improviso e futebol é mais ainda, ainda mais o Amador”, observa Vando.
Ambos têm experiência musical. Hoje com o nome artístico Rodrigo Luzzi, Goiano já trabalhou com dança e atualmente é cantor de sertanejo universitário, com composições mescladas com outros ritmos. A carreira, iniciada em Goiás, já tem 10 anos. Goiano tem quatro músicas gravadas e vai lançar um EP Single, com a música de trabalho Tô afim de curtição.
Já Vando compôs muito no passado, mas abandonou a carreira e o violão é um passatempo raro. Compondo desde gospel até samba, fez diversas parcerias com músicos da região.
Seu primeiro grupo foi o de rapp, Bronx Rap Negro, que fez shows pela região. Depois, compôs músicas para o grupo de samba Infinito Desejo e quase teve uma canção, composta em parceria com Cadinho, gravada por Péricles no fim da década de 90. Foi ainda vocalista do grupo de reggae Rafa Roots.
COMPOSITORES NO CAMPO
Goiano jogou na base do Goiás e se profissionalizou no Vila Nova, mas desistiu da carreira aos 21 anos após a morte da mãe adotiva. Curiosamente, seu nome artístico homenageia a falecida Luzia, em italiano, Luzzi. Uma taróloga disse que Luzzi representava o mesmo número de seu nome completo Rodrigo Clemente da Silva Godoy, que é 9, a numeração do centroavante. E hoje, Rodrigo defende a Santa Luzia. “Eu até arrepio quando falo, e eu dizia que minha mãe adotiva era uma santa”, lembra.
Enquanto Goiano disputa sua primeira competição em Mogi, Vando está na quarta final, todas pela Vila. Já foi campeão em 2007 e 2012. As outras conquistas foram assistidas por Vando como torcedor. “Minha identificação é Vila Dias sempre”, frisa o jogador, que usa a 6 em homenagem a Cezão, ídolo do clube.