Teve uma treta numa viagem de família que presenciei por todos os lados. Aconteceu com uma prima, mas podia ser comigo ou com você. Ela tem um casal de filhos e eles deviam ter uns quatro anos na época. Incomum para os dias de hoje, ela não os deixa assistir televisão, acessar celular, ganhar brinquedos caros ou ter coisas que remetam a personagens típicos do capitalismo.
As crianças estudam numa escola com uma metodologia diferente, onde o aprendizado se dá por meio de experiências. Lá não se ensina a contar os números como nos métodos tradicionais e nem conhecer as letras de forma isolada.
Do outro lado da história estava o pai dela, avô das crianças, indignado pelos netos não saberem contar até dez e nem responder aquelas bobeirinhas que fazemos quando estão sendo alfabetizados, do tipo “elefante começa com que letra?”.
Eis que estou perambulando pela casa onde estávamos hospedados e vejo o senhor em questão parado em frente à placa do carro com os dois, forçando a barra para que a soletrassem. Dada a minha experiência com relações familiares, na hora me toquei que aquilo ainda ia render… e rendeu.
A atitude do avô vai na contramão do desejo dos pais. Talvez pudesse compreender a interferência na educação se ele fizesse parte dela, tipo daqueles que cuidam o dia inteiro, tem a responsabilidade em levar e buscar na escola, médico, acordar de madrugada. Enfim, usasse a própria vida em função, afinal, quem paga as contas manda na casa. Mas não era o caso e não é na maior parte das vezes.
Imaginem o quanto é cansativo educar sem as telas? Nunca fui daquelas mães que deixava a criança o dia inteiro na frente da televisão e até hoje brigo com o celular, acho um absurdo viajar sem olhar o caminho, mas gente, aquela descansadinha depois do almoço, aquele filme no dia de chuva, aquela preguiça de domingo cedo, meu Deus, elas devolvem a força para seguir adiante rsrsrsrs.
Agora veja bem, ela está disposta a pagar o preço, a não se permitir ter preguiça, a achar o que fazer quando caem baldes de água do céu. Ela assume o risco por um sistema educacional que ainda é pequeno no Brasil, ela paga por ele com dinheiro e vida, visto que precisa se comprometer com tudo que o método exige.
Não é justo! É desrespeitoso demais cada vez que alguém de fora, por mais que tenha vínculo sanguíneo, passa por cima do que escolhemos como certo. No meu caso não sei se essas coisas aconteceram por eu ser muito nova e de repente acharem que tinham mais experiência ou por ser uma característica pessoal de quem a produzia mesmo.
Na verdade elas acontecem até hoje. Já fui violada várias vezes. Em outras, desculpe as palavras chulas, baixaram as calças, mas ainda deu tempo de evitar o crime, depois de luta, é claro. O lado bom é que como meus filhos já são quase adultos conseguem responder por si só, na maior parte das vezes. O lado ruim é que todo mundo gosta de facilidades e nem sempre reconhecem o preço delas a médio prazo.