O pensamento há de ser livre, sempre livre e essencialmente livre. Palavras essas do juiz do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, traduzem a importância de viver em uma sociedade livre de preconceitos. Uma sociedade requer o respeito pelo outro. Esse é o sentido do verbo respeitar.
Precisamos nos conscientizar que vivemos em um mundo plural, não em uma sociedade singular. É preciso ter em mente que as pessoas são diferentes e que não é preciso ser, ouvir, ler, pensar de acordo com o que nos é imposto diariamente. Viver não é desobedecer ordens impostas pela lei, viver é poder ser livre. Mas para ser livre é preciso viver em uma sociedade sem amarras e democrática, na qual não é preciso gostar do “tum tum” alto de meu carro, mas respeitar o som vibrante que ouço, assim como tolero o som do seu automóvel que, às vezes, não me convém.
Em matéria publicada pelo jornal O POPULAR no último sábado com o nome “O batidão do funkeiro Mr. Motta”, a divulgação afirma que o funk está “cada vez mais inserido na sociedade” e que “você pode até não gostar, mas o funk está aqui, faz parte do nosso cotidiano”. Então se o funk faz parte do nosso cotidiano, estamos livres de preconceitos para com essa expressão musical?
Não, não estamos. Vide os inúmeros comentários preconceituosos que surgiram em relação ao conteúdo da matéria. Comentários que demonstram a perseguição para com o ritmo que tomou as ruas, o que é inegável. A professora da Universidade Federal Fluminense e antropóloga com tese de pós-doutorado sobre o funk carioca, Adriana Facina, também já constatou. “Há muita perseguição ao funk (…) que chega até apreensão e destruição de equipamentos”.
Agora há de se perguntar: perseguição? Nossa história mostra que já vivemos tempos obscuros, de perseguições por aqueles que lutaram por uma sociedade livre, períodos sem liberdade de expressão, enfim, sem espaço para nada, além daquele que nos era permitido. Será que teremos novamente, após a conquista da democracia, que viver em uma liberdade chula, onde será permitido pensar, agir, ler e ouvir apenas o que a “classe mais favorecida” deseja?
Como bem diz a coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular de Bactérias (BMB), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Agnes Figueiredo “o que importa é a felicidade e a liberdade de expressão, não o que as pessoas vão falar ou pensar”. O ser humano vive e, na sociedade em que ele vive, estará sempre em busca da felicidade.
Ser feliz é respeitar o outro, por isso chega de tanta intolerância. Podemos não gostar do que o outro ouve ou faz de sua vida, nem por isso temos o direito de desrespeitar qualquer pessoa que seja. Porque se todos vivem em busca da felicidade, você que critica, será que vive atrás de sua felicidade? Ou vive apenas para atrapalhar o outro?
É chegada a hora de união e não da desunião. Olhe para trás, pesquise, confira a história de nossa humanidade. Veja quantas pessoas foram mortas por conta da intolerância, devido àqueles que não respeitaram o direito do outro existir.
Por fim finalizo questionando: se as sociedades estão cada vez mais plurais, te pergunto e você é plural?
Thiago Henrique Augusto é Historiador formado pela USP, Professor de História do Brasil e Geopolítica e Pesquisador.