Mogi Mirim é terra de muitos filhos célebres. Dos que aqui viveram muito e ganharam destaque pelo mundo afora. Dos que daqui jamais saíram e por aqui foram importantes. Anônimos ou públicos. Celebridade é quem faz seu mundo ser e acontecer. Há claro os que têm sangue mogimiriano correndo nas veias, mas que foram fazer milagre em outras casas.
José Dias é um destes exemplos. Nascido em 6 de abril de 1936, o cantor e compositor nasceu por aqui e, em seus registros, conduz o nome de Mogi Mirim. Porém, foi criado mesmo é na Capital. Estudou até a segunda série do ginasial, fez cursos de desenho e torneiro mecânico no Liceu de Artes e Ofícios, foi office-boy, engraxate e servente de pedreiro. Porém, seu destino era a música. O samba!
Entre seus principais parceiros estão Luiz Vieira, Moacyr Franco, Dora Lopes, Zuzuca do Salgueiro, Capitão Furtado, Tereza Tinoco e Geraldo Babão. Uma de suas composições mais conhecidas é “Chamego de crioula”, gravada por Elza Soares.
Trajetória
Desde os 15 anos, Zé Di participou de programas de calouros. O aparecimento de fato para o cenário musical veio em 1963, com a música “Mil Desejos”, segunda colocada no “Festival de Música Infantil”, promovido pela antiga TV Excelsior. Dois anos depois, Hebe Camargo gravaria uma música de sua autoria em parceria com Luiz Vieira: “Escola da Vida”.
Aos poucos, o espaço era cravado. Em 1966, com “Catira”, foi o vencedor do Primeiro Festival de Música Sertaneja, da TV Paulista (hoje Globo) e, em 1967, ficou em segundo no Festival da Música Infantil. Desbrava os festivais, mas era mesmo eclético. Os anos seguiram e veio 1971. Na escola de samba paulistana, Vai-Vai, compôs o samba-enredo “Independência ou Morte”.
A agora escola ainda mantinha a tradição dos cordões, que marcaram o Carnaval, sobretudo no Rio de Janeiro, entre o século XIX e o século XX. Zé Di foi o compositor do último samba do tempo de cordão. No ano seguinte, a escola do bairro do Bexiga voltou a desfilar com outro samba do mogimiriano, “Passeando pelo Brasil”. Neste mesmo ano, apresentou-se com Grande Otelo no Hotel Hilton, em São Paulo.
Em1974, lançou o LP chamado “Zédi… samba”, pela gravadora Tapecar, no qual interpretou “Independência ou morte”, “Ontem” (com Astrogildo Silva), “Salgueiro chorão”, entre outras. Aliás, entre elas, uma vencedora! Ao se aventurar pelas escolas cariocas, entrou no time de compositores da Acadêmicos do Salgueiro.
Concorreu e venceu a disputa que escolheu o samba para o enredo. Era “Rei de França na Ilha da Assombração”, com a qual o Salgueiro foi campeão no carnaval de 1974. Zé Di e Laíla puxaram o samba na Avenida Presidente Vargas.
No mesmo ano, em 8 de abril, o jornal “Opinião”, do Rio de Janeiro, publicou entrevista com o cantor e compositor. O periódico classificou o disco como “uma reunião de sambas imaginosa e fértil, principalmente quanto a letras e linhas melódicas”. Comparado a sambistas da então nova geração, com Martinho da Vila, se manteve em produção.
Em 3 de agosto de 1975, o jornal “Estado do Paraná” publicou artigo de Aramis Millarch sobre o disco “Zédi… samba”. “Zé Di conta e canta maravilhosamente a sua própria experiência de criador das camadas humildes, confessando seu deslumbramento diante do sucesso, e aproveitando para responder aos que estranhavam o fato de um paulista ser capaz de se revelar bom compositor de sambas: Comovido agradeço, feliz em dizer, Crioulo não tem hora pra chegar. Sambista não pede lugar pra nascer”.
No ano de 1976 gravou, pela Tapecar, o LP “Meu recado”, no qual interpretou “Alegria” (Norival Reis e Vicente Mattos), “No pé de cajarana” (Venâncio e Corumba), “Luar” (Naval), “Corcoviei” (Luiz Grande) e outras composições de sua autoria: “Nega bonita”, “Meu recado”, “Não me atire a pedra”, “Saudade” e “Não dou meu sim”, esta última em parceria com João Rodrigues. Em 1978 apresentou com Nelson Cavaquinho o show “Brasileiríssimo”. No ano seguinte, em parceria com Luiz Vieira, fez show no Copacabana Palace.
Em meados de 1979, a diretoria do Salgueiro anunciou, para o Carnaval de 1980, um enredo sobre Lamartine Babo. No entanto, uma mescla entre crise financeira e de gestão fez com que a escola modificasse o tema a poucos meses antes do desfile. A toque de caixa, a ala de compositores foi convocada para fazer o samba que seria a trilha sonora para o novo enredo “O bailar dos ventos, relampejou, mas não choveu”.
Um mutirão formado por Zé Di, Zuzuca, Moacir Cimento e Haideé resultou na composição que ajudou o Salgueiro a classificar-se em terceiro lugar naquele ano. Dois anos depois, Zé Di novamente concorria no Salgueiro, desta vez para o tema “No reino do faz-de-conta” e novamente seu samba foi o escolhido, em parceria com César Veneno. Como o puxador titular Rico Medeiros encontrava-se em viagem à Europa, foi Zé Di o detentor do microfone número 1 na ocasião do desfile.
Lançou ainda outros discos, fez mais shows. Compôs, cantou e gravou. Hoje, o mogimiriano de 84 anos segue distante de sua terra natal. Porém, sempre que falam de Zé Di e sua história, lá está a cidade que o colocou neste mundo para vencer em seu mundo. De Mogi Mirim para o mundo do samba. Sempre as reverências a esta referência. Grande, Zé Di.