No primeiro capítulo de suas histórias no Boteco, o ex-zagueiro do Mogi Mirim, Bragantino e diversos outros clubes, José Márcio Rottoli Mansur, o Zé Márcio, recorda a oportunidade de ser aprovado em um teste no Atlético Mineiro, do técnico Telê Santana, na década de 70. O ex-zagueiro também relembra uma avaliação na Portuguesa.
Boteco – São muitas histórias, hein, Zé Márcio?
Zé Márcio – Eu não gosto de ficar falando que eu fiz isso, aquilo. Então agora eu vou contar pra você. Fui no Atlético Mineiro, quem era o treinador? Telê Santana. O Nino tinha um amigo em Belo Horizonte. E ligou para esse amigo para que eu fosse treinar no Atlético, no comecinho de 73. Aí tinha dois homens aqui em Mogi, eles saíam para jogar baralho, pra tudo quanto é lugar. Eles já iam lá e me levaram. Deixaram quatro dias pago o hotel pra mim.
Boteco – Era um teste?
Zé Márcio – Isso. E fui treinar. De manhã foi preparo físico. Chegou à tarde coletivo, mas eu treinei bem…
Boteco – E no meio dos profissionais? Quem tinha na época?
Zé Márcio – A linha: Harley, Humberto Ramos, Campos e Romeu Cambalhota. Humberto Monteiro era lateral-direito. Grapete, Vantuir, Oldair… Vanderlei. Apesar que no treino, eles não… né? Mas eu treinei bem para burro.
Boteco – Chegou a conversar com o Telê? Como ele era?
Zé Márcio – Cheguei, ele era gente boa, legal para burro. “Oh menino, vem cá. Da onde você é? Quantos anos você tem? Nós vamos fazer dois jogos no Norte. E quando eu voltar, quero ver você aqui”. “Sim, senhor”. Eu tremia dos pés à cabeça. Sentei para trocar de roupa, o Grapete, que era o beque central, sentou do meu lado: “oh, boa hein menino, gostei de ver, hein?”. Falei: “sabe quem é amigo seu, falou para eu falar para você que fez o exército com você, Hélio Orru, tá lá em Mogi Mirim”. “Orru?”. “É”. “Nossa, não tô lembrando direito, mas como ele é?”. “Baixinho, magrinho, joga com a perna esquerda”. “Ah, eu sei”. “Tá lá?”. “Tá”. Aí eles viajaram, eu ainda fiquei dois dias lá treinando com quem não viajou. Aí me deu um desespero, puta, cadê esses homens que não voltam, o que eu tô fazendo aqui, não tem coisa para comer, tenho que gastar do bolso, eu tava sem dinheiro, peguei o ônibus e vim embora, nunca mais voltei.
Boteco – Você se arrependeu?
Zé Márcio – Ah, naquele tempo eu não me arrependia, eu não ligava, sabe? Muito bem! Seo Benedito Franco da Silveira, Dito Aprígio, advogado, arrumou para eu treinar na Portuguesa. Técnico: Otto Glória. Fiquei na casa do Lelo Zucaratto. Fui treinar, marquei Enéas, acabei com o treino, fui bem demais. E vem a “sorte” minha de novo. Portuguesa viajou para Portugal. Foi quando a Portuguesa fez aquela famosa excursão e ganhou a Faixa Azul. Eu fiquei lá com quem não viajou, Maizena, Eudes, Callegari, Carioca. E sabe o que a gente fazia? Futebol de salão, não tinha gente pra treinar. Puta vida, o que eu tô fazendo aqui, na casa do Lelo, o Lelo casado de novo, eu na casa dele, comendo, bebendo, ele me levava pro campo, depois ia me buscar. Não tá certo isso. Peguei vim embora.
Boteco – Mas na época você não se preocupava tanto?
Zé Márcio – Não, sinceramente, eu não ligava.
Boteco – Hoje você vê com outros olhos?
Zé Márcio – Ah, se fosse hoje… Naquele tempo eu achava que eu tava certo. Hoje, puxa vida, né? Se eu pego, fico em Itumbiara, lá tem Goiás, tal, tal, tal. Se eu fico no Atlético Mineiro e desse certo? Porque o Grapete já tava velhão, tinha o central que jogou depois, até jogou naquele dia que perdeu pro São Paulo nos pênaltis, que o São Paulo foi campeão (em 1977), o Márcio ficou na reserva minha do treino. Márcio, Silvestre, era tudo molecada, tinham 17, 18 anos, depois foram titulares. Portuguesa nunca teve esse baita timão e eu tava bem lá. Então tudo isso daí podia ser que desse certo, algum tinha que dar, mas eu não ligava, tinha arroz e feijão na mesa, não precisa correr atrás. E outra, chegava aqui, jogava aqui, conhecia todo mundo.
Boteco – Zé Márcio volta para revelar aventuras tensas e curiosas em sua passagem pelo Itumbiara, em Goiás!