De volta ao Boteco, o ex-atacante mogimiriano José Roberto Januário recorda o desafio psicológico de chegar ao Vasco, aos 18 anos, e enfrentar as tentações da noite carioca.
Boteco – Como foi chegar, com 18 anos, a um clube grande, tinha que ter muita cabeça?
Zé – Sabe o que acontece? Jogadores, artista, cantor, são idolatrados, um autógrafo, tirar uma foto e você se sente gratificado. O jogador quando o ônibus tá chegando, aquele povo gritando o nome da gente, dá uns tremeliques em você.
Boteco – No Vasco, tinha a noite do Rio também…
Zé – Nem quero falar pra você… E você não me vá pra lá, hein, você não me vá pro Rio de Janeiro (risos). Muda completamente a cabeça, se não tiver uma orientação, uma certa experiência, você roda mesmo. Rio de Janeiro, tudo é samba e cachaçada toda hora. “Vamos em casa fazer uma comida”. Torcedoras, torcedoras… Elas ligavam, iam no jogo, convidando, viam o jogador no jornal, liga, manda recado. Fulana ligou aí. Fulana de tal quer falar com você, deixou o telefone para você ligar. E a gente curioso…
Boteco – Não tinha como, né? Solteiro…
Zé – Isso que estou falando, solteiro, “vem aqui nós vamos fazer uma janta, um churrasquinho, passa aqui, eu moro aqui, em tal lugar, pode vir”. Tava armado, aí vou falar para você, perdição. Se não tiver a cabeça no lugar…
Boteco – E tinha um segredo para conciliar isto com treino?
Zé – A gente tinha que separar. E a gente era monitorado. Ficava supervisor. A balança também tá acusando. Você tem que manter. 8h o treino, tem que estar lá 7h50.
Boteco – Os jogadores iam muito pra praia?
Zé – Nossa, no Rio tinha que ir, calor danado. Segunda-feira, folga, ia fazer o quê? Não falava “vamos pra praia”. “Vamos pra Zona Sul”, as praias no Rio estão na Zona Sul.
Boteco – Na sua carreira, chegou a aprontar, pular o portão, fugir de concentração?
Zé – Acho que contaram alguma coisa pra você (risos). Aprontei muito, fugia da concentração às vezes, coisa de moleque.
Boteco – Houve alguma história com o Cilinho na Ponte?
Zé – Briguei com o Cilinho. Caí naquela de fugir da concentração. Ele tinha razão, então não vou jogar mais aqui. E o Cilinho acredito que queria tesourar eu. Saiu no jornal: ou Zé Roberto ou Cilinho. Um vai embora, um bafafá. E a Ponte não podia me mandar embora porque ia jogar dinheiro fora. E eu sabia, eu tava bem, mas tonto que eu não podia fazer isso. A primeira oportunidade que houve de venda (pro Vasco, foi vendido)…
Boteco – Apesar de curtir, você levou mais a sério? Há muitos que não conseguem seguir a carreira, você conseguiu passando por cidades difíceis como o Rio. Qual o segredo?
Zé – Issoooo. Eu tive amigos bons lá no Rio, conheci pessoas boas, nossa: “não vai aqui, não vai ali”. Ia com a gente, “faz isso, faz aquilo”. Amigos, gente de fora também.
Boteco – Jogadores mais velhos orientavam ou não tem isso?
Zé – Ter tem. “Vai em tal lugar?”. “Não vai”. Você é mais velho de casa, dá conselho. “Não vai sair com essa mulher, vai dar rolo”. Mas você mesmo vai ficando esperto, em um mês tá esperto.
Boteco – Chegou a ver jogadores que você falava, esse cara podia ter ido longe e não foi porque não levou a sério?
Zé – Cheguei. Não gostaria de citar nomes, mas em Mogi tem um celeiro de craques, que poderiam até ir para seleção, sou fã de vários atletas do passado.
Boteco – Zé Roberto volta para abordar curiosidades dos duelos com seus marcadores, com direito a provocações!