No terceiro capítulo de suas histórias, o ex-atacante de Vasco e Santos, José Roberto Januário, recorda o teste que o credenciou a iniciar a carreira na Ponte Preta e aborda os duelos com marcadores, com direito a provocações.
Boteco – Como você chegou à Ponte Preta?
Zé – Conhece o Davi, o Dida? Pergunta pra ele. Você que levou o Zé Roberto pra Ponte, né? Ele foi goleiro da Ponte. Pergunta: Davi, como foi quando o Zé Roberto fez teste lá no sábado (no time juvenil)? Os profissionais viram.
Boteco – Como foi, Zé?
Zé – Arrebentei com o jogo (pelo juvenil) contra um time amador de Campinas. Os profissionais estavam concentrados no estádio. Os profissionais sentavam lá à tarde. Só eu fazendo teste. Quiseram que eu assinasse um contrato de gaveta na hora.
Boteco – Qual seu jogo inesquecível pela Ponte?
Zé – Nooossa. Jogou Ponte Preta e Ferroviária, eu tava completando 17 anos, na Fonte Luminosa. Joguei o jogo todo, perdendo o jogo, eu meti gol, presidente da Ferroviária mandou 100 mil no meu passe, já pagava, já acerta ali, no fim de 74, Campeonato Paulista. A Ponte não quis nem tchum.
Boteco – Quem você considerava seus melhores marcadores?
Zé – Olha, sinceramente, não estou desmerecendo, sendo metido, mas para marcar eu era difícil. Pergunta pro Oscar, que jogou na seleção. Nós começamos tudo na Ponte Preta. E nos treinamentos, tinha vez que ele tinha que me marcar. Eu chamava ele de Cacá, ele me chamava de Pretinho. Ele falava: “para com isso, ficar correndo”. “O que você quer que eu faça?”. Era difícil ganhar a bola, ganhava, mas era difícil. Eu era muito rápido. Quando treinava nós, juvenis, nos profissionais (da Ponte), a gente começava a correr muito, os caras ficavam putos. Por quê? A gente ficava dando trabalho, eles tinham que correr.
Boteco – O Oscar ficava bravo?
Zé – Ficava: “você é minhoca ainda rapaz”. Você sabe o que é minhoca? Que está começando. “Por que eu sou minhoca?”. “Porque eu que sou cobra”. Cobra é eles. “Eu jogo no time da renda”. Por que time da renda? Porque o povo lota o estádio pra ver eles jogarem, então vai dar renda. E eu sou minhoca, jogo no juvenil, não vai lotar (risos). Aí eu queria dar mais trabalho, tinha que defender a minha, porque se não jogasse bem, eles me mandavam embora.
Boteco – Mas depois, quando era o jogo, eles gostavam, né?
Zé – Aí chegava no jogo, eu entrava, arrebentava, aí chegava no outro treino depois, eu falava: “não sou leão de treino, não, hein, cara”. Eles ficavam quietos.
Boteco – O que te dava mais prazer: um drible ou um gol?
Zé – O que me dava mais prazer era eu levar a bola pra cima do zagueiro e fazer eles correrem pra cima de mim. Porque eles ficavam loucos, queriam me pegar, não conseguiam. E eu rápido e aí eu aparecia. Na minha cabeça, eu aparecia.
Boteco – Você também provocava os zagueiros?
Zé – Quantas chuteiras eu desamarrei dos caras (risos). A bola na defesa, eu encostava no zagueiro e puxava. Eles ficavam putos para caramba.
Boteco – O que os jogadores te falavam. Tinha provocação?
Zé – Falava mal de sua mãe, da namorada.
Boteco – O que você falava?
Zé – Ficava quietinho, se ameaçava, os caras já davam soco.
Boteco – Zé Roberto volta para recordar duelos com o ex-zagueiro da seleção, Luís Pereira, a final da Taça São Paulo de 1975 e uma histórica provocação contra o Corinthians.