A carreira está sendo construída na Europa. Sua formação foi toda em Porto Alegre (RS). Mas é em Mogi Mirim que está parte de seu berço, foi onde nasceu e onde mantém vínculos familiares e afetivos. Júlio César Sant’Anna nasceu em Mogi Mirim no dia 10 de julho de 1995. O pai, César Augusto Sant’Anna, viera da capital gaúcha até a Cidade Simpatia para defender o vermelho e branco do Sapão da Mogiana.
Atuou na base do clube enquanto o profissional encantava o mundo com o Carrossel Caipira. César se encantou por Nara Rossatto e, desta união, nasceu Júlio. Com menos de dois anos, porém, a família se mudou para o Rio Grande do Sul. Júlio deixou por aqui muitos familiares, como a avó Maria de Fátima, tios e tias, primos e primas. Vínculos espalhados por vários cantos da cidade, em bairros como Santa Cruz, Vila São José e Vila Dias.
É com a história de Júlio que seguimos contando os roteiros de jogadores de futebol nascidos em Mogi Mirim e que trilham seu caminho no futebol profissional. Júlio começou em escolinhas de futebol. Passou, ainda criança, pelo São José e pelo Cruzeiro, clubes tradicionais da capital gaúcha. Na juventude, defendeu ainda o Sapucaiense antes migrar para a Suíça com 18 para 19 anos. Na mente?
O sonho de repetir os feitos do pai. “Eu já fui no estádio ver meu pai jogar e tinha o desejo de acontecer o contrário, meu pai olhando a partida. Essa é uma vontade que eu tenho. Acredito que vou conseguir e vou dar meu melhor pra isso”. César, hoje com 47 anos, vestiu camisas como do Crotone, atualmente na Seria A da Itália e do FC Zürich, onde chegou a atuar e marcar gols em partidas da antiga Copa da UEFA.
Os mogimirianos no mapa do futebol profissional no Brasil
Através do pai, teve portas abertas para testes. Mas construiu seu próprio espaço. “Tive uma oportunidade de jogar em um time mais para experiência. Eu vim com mais dois amigos brasileiros, fiz 11 partidas e marquei 10 gols”, revelou Júlio, que falou com a reportagem de O POPULAR, direto de Zurique.
Começo
Era a chance que precisava. Começou no FC Windisch, passou pelo FC Wangen bei Olten, SC Zofingen e FC Affoltern am Albis antes de chegar a um clube da mesma cidade em que o pai brilhou. Hoje é atacante do Zürich City SC, agremiação das séries de acesso da Suíça, país que reúne três divisões em um sistema semelhante ao nosso e, abaixo, diversas séries regionalizadas, em um total de nove degraus e quase 3.000 times. A marca registrada?
A organização! Para Júlio, atuar hoje no equivalente à quarta divisão suíça é semelhante à elite de um estadual do Brasil. Ou até mais. Exemplificou com uma passagem recente pelo Santa Cruz, de Santa Cruz do Sul-RS, onde disputou a Divisão de Acesso do Gaúcho, espécie de Série A2.
“Quando joguei lá, morava embaixo da arquibancada, aqui moro dentro de um apartamento, com a minha família. A estrutura, por mais que seja uma divisão inferior na Suíça, se sobressai e muito até de um time de Série C ou até Série B do Brasileirão”.
Emprego
Como é comum na Europa, em séries de acesso, regionalizadas, os jogadores não são exclusivamente atletas de futebol. Trabalham também em outras áreas e este é o caso de Júlio no Zürich City. “Aqui neste meu time, o presidente é dono de uma empresa que faz mudanças e, normalmente, eles te oferecem emprego. Claro que cortam muito do seu horário para que você tenha condição de treinar e jogar, não estar morto na hora de jogar”, brincou.
O atacante fez novo comparativo com o Brasil, lembrando que, por aqui, os clubes costumam angariar patrocinadores ou encontrar um investidor para tocar o clube e pagar o salário dos atletas. Por lá, nestas divisões, o atleta é empregado na empresa do presidente ou de outros dirigentes. Por isso, os treinos costumam ser à noite e os jogos aos finais de semana. “Te botam para trabalhar, pagam salário junto com o futebol e faz os dois em um. Tudo isso inclui ainda ficar aqui com o visto, tudo certinho, poder viver na Suíça”.
Por lá vive com sua esposa, a brasileira Thainá e teve dois filhos nascidos na Suíça mesmo. Saimon, de dois anos e Ythan, de um ano. Vive o sonho do futebol ao mesmo tempo em que reside em um país com alta qualidade de vida. “Tudo de primeira linha à disposição. Aqui não existe SUS, por exemplo, todo mundo é obrigado a ter um plano de saúde, é regradinho e funciona. E horário? Tudo no horário. Às vezes brinco que, se você vai pegar tipo o ônibus das 10h30, pode olhar lá na ponta que 10h28 ele desponta e 10h30 ele abre a porta na sua frente. Para um brasileiro, parece loucura”.
Sonhos
Na temporada 2020/2021, em seu novo clube (em que chegou no último dia da janela de transferências), ele já marcou dois gols em três jogos. O primeiro foi na estreia, dia 13 de setembro, aos 26 minutos do primeiro tempo da vitória por 6 a 2 sobre o FC Srbija ZH 1. Já na última quinta, 1º, fez aos 12 da etapa final no triunfo por 3 a 0 do City sobre o Kosova 2. Neste domingo, 4, a equipe volta a campo para enfrentar o FC Republika Srpska 1, em casa, na Seebach City Arena. Aliás, o clube conta com um campo oficial para jogos, mais dois suplementares e outro sintético, para períodos de neve.
O jogo deste final de semana é válido pelo Grupo 2 da Meisterschaft – 3. Liga. Uma das muitas palavras que nos soam estranho, mas que fazem parte da rotina de um mogimiriano que ganha mais do que minutagem no mundo da bola. “No começo foi difícil, mas aqui falam muito italiano, que lembra um pouco o português.
O técnico às vezes dava a instrução em italiano e eu entendia um pouco. E o que não entendia, fazia de conta que entendia. Agora, sei inglês e italiano e estou aprendendo alemão, que é bem complicado pra gente”. Oferecendo qualidade de vida para si e a família, Júlio vive o futebol dia a dia, mas, como qualquer jogador, sonha em crescer.
“Eu tenho um objetivo, um sonho, esta ambição de jogar a primeira divisão, fazer parte de um campeonato top. Eu trabalho, treinando bem e tentando fazer os melhores jogos, porque nunca sabemos quando a oportunidade vai bater na porta e, quando ela bater, tem que estar pronto”.
Tudo isso distante, claro, de outros amores. Os pais vivem em Porto Alegre. E muitos dos familiares estão aqui, em Mogi Mirim. Em linha reta, separados por 9.530 quilômetros. E até por um oceano e outras nações. Mas, aproximados com este bate-papo. E, quem sabe, em breve, Júlio esteja por aqui, para passear por Santa Cruz, Vila São José e Vila Dias e abraçar o lado mogimiriano de sua vida. Uma vida que nasceu aqui e hoje percorre o planeta bola.