Passado o sofrimento do vestibular, chegamos à tão esperada faculdade. Gabi foi aprovada na Unicamp e oficialmente tenho uma filha no Ensino Superior. Orgulhosíssima, meu caminho agora é apenas de coadjuvante. Sigo na torcida, com aquele sorrisinho bobo de canto de boca ao lembrar do caminho trilhado até aqui. Sobrevivemos.
É um processo gradativo. Até o primeiro ano do ensino fundamental, as lições eram apenas na sexta-feira, o que dava o conforto de quase três dias para concluí-las. Mudou de fase, o sistema aperta. As tarefas passam a ser diárias e começa o “rebuliço” até encontrar o que funciona para a rotina da casa, o que, no meu caso, nunca aconteceu. Cada dia era um dia!
Parece simples, mas na matemática, com filhos, um mais um nunca são dois. Se vai fazer depois da escola, está cansado, tem muita chance de virar choradeira ou relaxo. Então você deixa para a manhã seguinte, naquela mesma em que decidiu que seu filho precisa aprender a nadar e que você mesma deve preparar as refeições da família para que “todo mundo coma comida limpa e saudável”.
Na teoria, bastava acordar um pouco mais cedo ou dar aquele gás quando chegava, antes do banho e do almoço. Na prática, nem um nem outro. As crianças lá de casa levavam tempo para estar prontas para a vida. Na verdade, todos nós acordamos lentamente. Do mesmo tamanho é a ilusão de que, assim como adultos, são capazes de sentar e com foco no relógio, não se distraírem com nada até que tudo esteja concluído.
Porém, chega um momento que a medida que as responsabilidades aumentam para eles, vão diminuindo para nós. A partir do quinto ano já estão mais maduros e, embora seja nosso papel continuar acompanhando, participando das reuniões da escola, a organização depende mais deles. Claro que é imprescindível que a família seja um ponto de apoio, que o lar ofereça estrutura para que isso aconteça como ajuste de rotina e espaço físico.
Conforme a vida segue, o desenrolar vai fazendo sentido. No Ensino Médio, por exemplo, praticamente inexiste a participação dos pais diretamente na escola. Na verdade, caso não fosse por assinar o contrato da matrícula e buscar todos os dias, era capaz que a gente nem soubesse onde fica. Mas essa é a gestação para a faculdade.
Se não houvesse o desmame gradativo, era bem fácil vermos mães chegando de mãos dadas com barbados até na porta da sala de aula, querendo saber quem são os novos amigos e onde o filhinho vai sentar. Me incluo entre elas.
Ainda é diferente pensar que, pela primeira vez, nada tenho a ver com isso. Possivelmente nunca conhecerei nenhum professor, bem poucos colegas e, se não houver um esforço, nunca saberei como é o campus.
Mas esse é o fluxo da vida e ele só está acontecendo porque a lição de casa foi bem feita. Porque, ainda que a vontade maior seja sempre a da convivência constante, acima está a formação, a construção de um ser humano independente, haja vista que o amor não aprisiona.