Por vezes sinto a maternidade um lugar muito sozinho. Você pode estar cercada de outras mães e, ainda assim, se sentirá nadando contra a maré, remando contra a correnteza. No fundo, viver é um ato de solidão. Estamos sempre dividindo momentos aqui ou acolá, mas, em essência, continuamos ímpares.
Então, qual seria a surpresa? Nenhuma! A inquietação que me revisitou por esses dias e que é a diferença fundamental entre os dois casos relaciona-se às consequências. Todas as vezes que fazemos uma escolha como mãe, colhemos o resultado em parceria com nossos filhos. E aí é que o bicho pega, nas sequelas que podemos deixar para eles.
Pela milionésima vez estamos vivendo um ano de encerramento de ciclo. Neto está no terceiro ano do Ensino Médio e, mantendo a tradição, começam os preparativos para a festa de formatura. O que deveria ser motivo de alegria e comemoração inicialmente para mim, nas últimas vezes, foi treta.
Vendem um sentimento meio que de “fim do mundo”. “Agora vão se separar!”. “É um momento único poder dançar com o filho”. “Na nova escola não vão ter nada do que tem aqui”. Sinto que é igual virada de ano, sabe? As pessoas pensam que, porque vai mudar um número, vão zerar e começar tudo de novo.
Nós não carregamos todo mundo que conhecemos ou convivemos pela vida. Naturalmente, vamos selecionando e ficando com quem faz sentido. E isso é ótimo, pois nos traz a oportunidade de sempre recomeçar, de estar em novos lugares e dividir novas formas de viver. Vamos ganhando cada vez mais experiências.
Além disso, não preciso de uma valsa para que meu filho tenha recordações amorosas comigo. E digo mais, proponho um desafio. Pense nas lembranças que guarda das pessoas que lhe fazem sorrir, que dão aquela saudade gostosa. Garanto que elas aconteceram no dia a dia, em coisas rotineiras.
É delicioso ter um dia de festa, é sim motivo de alegria mudar de fase, mas precisa ter coerência. No nono ano da Gabi sugeriram uma viagem para um resort, com passeio de barco e quando um acampamento ganhou, teve quem reclamou do filho ter que arrumar a própria cama lá. Então você paga um jovem de 14 anos e eleva a régua dele – que diga-se de passagem já é alta – lá e desbalanceia para sempre o botão da frustração.
Aí você pega um semiadulto que vai prestar vestibular no final do ano e deveria estar construindo este caminho e incentiva a vender brigadeiro no intervalo da aula para arrecadar dinheiro para um churrasco porque “eles merecem essa interação, já não vão viajar”, embora terão uma noite de festa bem cara, inclusive.
Suas convicções passam muito longe disso tudo, mas não é você quem vai à escola todos os dias. A maturidade já trouxe valores claros enquanto o cérebro jovem anseia pelo imediatismo. Então, depois de ruminar e mais uma vez se sentir um ET – pra não dizer a chata do grupo – você coloca tudo no bolso e fecha o zíper.