Os primeiros meses de 2023 foram marcados, em todo o Brasil, por um intenso registro de chuva. Das pancadas de janeiro e fevereiro às “águas de março”, muita água passou e deixou suas consequências. Entre elas, as que afetam as estradas de terra, em sua maioria instaladas em regiões rurais. Só que nem tudo é pela chuva. Ao menos para quem vive há tanto tempo em uma área tão importante para a cidade, a região e o país.
É da Zona Rural que é escoada a produção de alimentos. Da comida que vai para a nossa mesa. E, claro, também é pelas estradas rurais que muita gente se locomove para trabalhar, para atendimento médico ou se divertir. Mas os usuários de diversas vias com este perfil em Mogi Mirim não têm muitos motivos para sorrir. É o caso dos moradores do Brumado, bairro marcado por ser um caminho mogimiriano para vizinhas como Itapira e Santo Antônio de Posse.
Alex Veríssimo Carvalho tem 27 anos e mora na Piscicultura Brumado. De acordo com ele, as estradas estão péssimas. “Tem alguns pontos que não dá pra passar. Tiveram que fazer outra estrada, esse trecho é próximo à Fazenda São Maurício. Mas tem outros trechos ruins também”, pontuou.
De acordo com ele, todos os anos, quando chega a época de chuvas as estradas ficam ruins. Mas, em 2023, ficou pior, principalmente nesses últimos quatro meses. “Quando chove é impossível passar pela estrada. Sempre que precisamos ir a Martim Francisco, quando chove, precisamos dar a volta por Mogi Mirim, um trajeto de uns 20 quilômetros, o dobro de quilometragem da estrada que liga o Brumado até Martim”, reclamou.
De acordo com Carvalho, os moradores entendem que é de responsabilidade do poder público tomar as medidas cabíveis e arrumar as estradas o mais breve possível. É a mesma visão de Joze Carla Domingues de Freitas Villanova, de 49 anos e que mora no bairro desde que nasceu.
“Para mim todas as estradas estão abandonadas. Desde que a Prefeitura parou de fazer a manutenção, não tem mais ninguém por nós aqui na Zona Rural, onde o alimento tem que chegar na casa das pessoas. Nós temos o direito de ter pelo menos uma boa estrada”, exclamou.
Marcilene de Castro Godoi, que mora na região já sete anos, depende das estradas diariamente para trabalho e atenta ao caos causado pelos problemas nas vias para quem precisa passar por elas todos os dias, ao menos duas vezes por semana. Luiz Antonio Domingues de Freitas, de 70 anos, e que é outro que reside no bairro desde que nasceu, frisa que, em sete décadas, nunca viu uma situação tão complicada como agora. “As estradas do Brumado não têm mais condições de andar. Foi pedido para vereador, prefeito, deputado e ninguém resolveu. Os carros quebram, tem trecho que ninguém passa quando chove. Já tombaram dois caminhões carregados e, para andar, só puxando com trator”, retrata o morador.
Transtornos
Anna Christina Nogueira, de 74 anos, reforça as críticas e o pedido desesperado por melhorias. “As estradas estão intransitáveis. Dê uma olhada no mapa e nas fotos e veja que estão todas impossíveis de transitar”, disse Anna, citando imagens enviadas a O POPULAR e publicadas nesta matéria. Ela ressalta que, em uma delas, a Estrada Maria Clara Cunha Canto (MMR-149), foi necessário fazer um desvio na propriedade do vizinho porque a via simplesmente acabou.
Ela destaca que o problema das estradas é antigo e que se agravou desde o começo de 2023. “Todo ano reclamo, mas muito pouca coisa acontece e quando chove vira uma tragédia”, frisou. Ela conta que os carros encalham, quebram. Que os veículos de transporte escolar não vão buscar as crianças porque também encalham. “Tem dias que não consigo sair da fazenda para ir à cidade. E, se alguém fica doente, como faz?”, questiona.
Anna disse que tem utilizado o Sindicato Rural como um meio para tratar com a Prefeitura. Que já conversou com as secretarias de Agricultura e até com um vereador. Mas, por enquanto, o caos continua. “O que queremos e esperamos é que arrumem as estradas como se deve fazer: a curvatura certa, compactar, cascalhar, compactar novamente, cobrar dos proprietários as cacimbas, inclusive da cana, que mais estraga as estradas e ter uma manutenção das mesmas. Ter uma fiscalização eficiente das terras de cana que jogam a água nas estradas, seus caminhões inadequados e a construção de cacimbas dos proprietários”, concluiu.
Já Terezinha Valdelice Pires, de 56 anos e que há cinco reside no Brumado, relatou os problemas que sofre com a educação. “Toda a estrada é péssima. Meu neto nem vai para escola quando chove, é uma vergonha. Moro aqui há cinco anos e, toda vez que chove, as crianças ficam sem escola por causa da estrada. Não dá para ir para a escola, nem no Postinho, nem chegar em Martim. Para nada”, desabafou.
Secretaria de Agricultura reconhece dificuldades, mas promete melhorias
A reportagem procurou a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente para tratar sobre o assunto. Oderdan Quaglio Alves, responsável pela pasta, reconheceu que a Região do Brumado foi uma das que mais sofreram por conta do excesso de chuvas do início do ano.
“Várias nascentes inativas voltaram a minar água, diversos pontos passaram a brotar e muitas curvas em nível de plantios estouram e todo o volume de água acabou indo para as estradas e impediu a passagem em alguns pontos”, explicou.
Ele disse que a Secretaria de Agricultura fez atendimento nos pontos que eram possíveis atender, contudo, em alguns pontos o volume de água que ainda está minando na estrada é tão grande que dificulta qualquer intervenção para resolver o problema. “Assim que for possível iremos atender da melhor forma possível”, prometeu.
Questionado sobre quais outras estradas rurais mais preocupam a pasta, o secretário citou a Rodovia Sétimo Biazoto (MMR-050), que já teve até pedido feito ao Governo do Estado pelo Programa “Melhor Caminho” para atender seis quilômetros da estrada que precisa de uma intervenção maior.
A via tem expressivo tráfego ligado à atividade agrícola, com ênfase nas lavouras de cana-de-açúcar e de limão. Oberdan disse ainda que, os outros oito quilômetros restantes da estrada serão atendidos pela Secretaria de Agricultura.