Quem convive comigo já deve ter me ouvido falar em algum momento que deveríamos ter duas vidas: uma para aprender e a outra para viver. Quando falo sobre isso não levo em consideração crenças religiosas. É apenas um jeito de dizer o quanto vamos ficando mais leves à medida que vamos aprendendo a dar valor ao que importa, na verdade, vamos cirurgicamente definindo o que de fato importa.
É como se fossemos perdendo a pressa, se passássemos a compreender que viver é uma espécie de série da Netflix, com capítulos com começo, meio e fim em cada fase, com a única certeza de que tudo passa.
A verdade é que somos seres mutáveis. Acontece desde sempre, seja por uma inclinação natural da biologia ou por necessidade de adequação. Quando deixamos de ser apenas um casal para nos tornarmos pais tudo muda de lugar. Também tem diferença ser responsável por um recém-nascido ou por um vestibulando.
A questão é que, se mantivermos o foco no presente, temos mais chance de saborear as alegrias. Não fica pesado, por exemplo, quando percebe que, momentaneamente, não combina mais participar daquele churrasco com a turma de solteiro no sábado à noite levando um bebê. Também não vale brigar com a calça jeans que insiste em não fechar logo após o parto.
Como já contei aqui outras vezes, em casa a alimentação é bem ‘basicona’ e deixamos para momentos pontuais delícias açucaradas e ricas em química, mas tem uma exceção. Diariamente, para ser mais clara, umas três vezes ao dia, o Neto tem um momento relax tomando um copo de leite com Toddy. É um ritual, ele senta no cantinho do balcão (se for à noite deixa só uma luz de fundo) e ali fica um tempinho, mexendo no celular e dando uma pausa na vida.
Dia desses dividiu comigo que estava pensando em parar, que por conta da atividade física estava achando melhor investir num outro tipo de alimentação. Fui contra. Veja bem, além de ser um momento invejável, ele não é um atleta profissional, é saudável e come bem na maior parte do tempo e, daqui bem poucos anos, pode ser que, naturalmente, não o faça mais, seja por falta de tempo ou por alteração do paladar.
Todinho na mão e bolacha Passatempo recheada na outra na adolescência fazia com que eu me sentisse vencedora, poderosa, era daqueles prazeres que você quer que o mundo congele para que dure mais tempo. Agora, não sei há quantos anos não passo nem perto, acho essa mistura com pretensão de leite extremamente açucarada enquanto só de pensar em abrir o pacote de biscoito já sofro com azia.
A vida é rio. Seu filho não vai acordar no meio da madrugada para sempre. Um dia a bala vai passar a ser muito doce, não precisa brigar. No outro, ficar com os amigos vai ser bem mais interessante que sair para jantar com você. Quando os agregados chegarem, os Natais serão divididos com a família dele. Não tenhamos pressa em intervir nos processos, degustemos!