Não deveria ser preciso passar por uma guerra para se conhecer o herói. Mas foi nesta batalha insana contra a Covid-19 que percebemos o óbvio. A relevância daqueles que se dedicam para cuidar de um bem tão precioso como é a nossa saúde. E a de quem amamos. Inclusive, se colocando na linha de frente, se expondo aos riscos para cumprir a missão essencialmente altruísta a qual se dispuseram. Para estes heróis, que se entregam diariamente para cuidar de nós, foi criada uma data especial. O 12 de maio é o Dia Internacional do Profissional da Saúde. Originalmente, era lembrado como o Dia da Enfermagem, em homenagem a Florence Nightingale, inglesa que viveu entre os séculos 19 e 20 e que é considerada a idealizadora da enfermagem moderna. A ampliação desta reverência tem sua justiça. Afinal, dos tempos de Florence para cá floresceram mais e mais campos de atuação. Cada um com suas ferramentas e muito amor à profissão. E ao próximo, claro. E, por mais que a cor que citarei adiante simbolize bem este ofício, não dá para passar em branco nesta data, concorda? Assim, O POPULAR e seus anunciantes prestam uma singela exaltação. Um gesto de carinho e gratidão aos profissionais da saúde.
Vocês são nossos heróis!
A rotina da enfermeira Daína Araújo da Silva, de 34 anos, não é diferente da dos colegas. Ela tem vivido dias tensos nessa pandemia. E, claro, a angústia de ir para os seus plantões, seja na UPA Mogi Mirim ou no Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas, com uma insegurança angustiante do que vai encontrar pela frente.
E sempre o pior pode acontecer, como a perda de uma tia e da própria mãe para a Covid-19, um dos momentos mais terríveis nos seus 16 anos de enfermagem. Antes, porém, ela relata outra história de encher os olhos de lágrimas também.
“Teve um paciente que estava orientado, consciente, comunicativo, porém com insuficiência respiratória e precisava ser intubado ou iria começar a apresentar confusão mental devido hipoxia e evoluir para uma parada respiratória. Explicamos todo o procedimento. Tranquilo, ele me questionou se iria ficar bem e eu falei que ele iria dormir um pouco e logo iria ver a família dele. Que ele dormiria uns dias, mas, se Deus quisesse, ficaria bem. Porém, durante a intubação evolui para uma parada cardiorrespiratória. Foram feitas todas as manobras necessárias, mas ele não resistiu e foi a óbito. Naquele dia eu chorei muito, porque fizemos tudo que estava ao nosso alcance, porém o paciente não voltou”, relatou.
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Essa foi uma perda muito sentida, como toda perda o é. Mas nada se compara a perda da própria mãe, que se foi no dia 16 de abril, quatro dias depois da irmã mais nova, sua tia.
“Foi o momento em que achei que não daria conta. Pra mim foi muito difícil. Eu falava com minha mãe pelo celular em chamada de vídeo e fui liberada para vê-la na UTI. Estava intubada. Consegui me despedir dela mesmo através de um vidro. Nesse momento senti na pele o que é ter um ente querido isolado e não poder ver e nem tocar pela última vez. Doeu e dói até hoje e a cada família ao qual tenho contato me faz lembrar de todo sofrimento que passei com minha mãe e pensar que toda dor que sofri estas famílias estão sofrendo. Minha mãe sentia muito orgulho de mim e falava isso pra qualquer um e eu prometi a cada dia fazer melhor pra que esse orgulho permaneça”, contou.
É pelo amor à sua mãe e à profissão que Daína busca forças e coragem para seguir na missão de anjo da guarda de seus pacientes. Muitos se salvam, a maioria deles, e é essa sensação, de que no final tudo deu certo, é que faz o seu dia valer a pena. “Ver o brilho nos olhos do paciente de alta e em seus familiares não tem preço. Não tem sensação melhor”, diz.