Antes mesmo de conviver com ele já o conhecia e o admirava. Foi seu discípulo mais longevo. Sua primeira missa como líder de uma comunidade católica foi sob suas bênçãos, 16 anos atrás.
O pároco da Santa Cruz, padre Charles Franco Peron, de 49 anos, esteve sempre por perto do saudoso monsenhor Clodoaldo Nazareno de Paiva, ou simplesmente Padre Paiva, nos últimos oito anos. Paiva faleceu aos 93 anos, no dia 19 de agosto.
Logo que se formou, em 2005, veio para Mogi Mirim de Pedreira, sua cidade natal. Ficou por aqui durante um ano como auxiliar do mestre Paiva, que moldou sua vida sacerdotal.
“Curioso que mesmo sem conviver com o monsenhor eu já o conhecia de longa data, porque eu convivia, em Pedreira, com o monsenhor Nilo Romano Corsi, que era muito amigo dele e quando vim para Mogi, logo que me formei, pude constatar a pessoa maravilhosa, culta e sábia que era o monsenhor Paiva”, conta. “Aprendi a ser padre com ele”, agradece.
Nesse período de convivência, padre Charles morou na casa de Padre Paiva e guarda até hoje lembranças gostosas daquela época.
“O monsenhor era uma pessoa muito querida na comunidade. Lembro do pessoal do sítio que levava polenta com linguiça frita para o jantar e eu adorava (risos). Na época de Natal, ele gostava de enfeitar a casa com o clima natalino. Ficava muito bonito”, recorda.
Daqueles tempos até hoje, na época de Natal, a comunidade se une para ajudar as famílias mais necessitadas com cestas básicas e brinquedos para as crianças.
Outra lembrança saudosa é o futebol. “Sempre houve um respeito mútuo muito grande quanto a isso. Nunca discutimos (risos).” Isso porque Charles Peron, como bom descendente de italianos, é palmeirense. E como todos sabem, Padre Paiva era corintiano roxo.
Romaria
“Desde quando voltei pra cá, para assumir a Paróquia de Santa Cruz, não teve mais”, disse. “A romaria, em si, não é um problema. Bem organizada, ordeira, piedosa é uma festa bonita. O problema foram as ‘parasitas’ que se agarraram à festa nos últimos anos”, opinou o padre Charles, referindo-se à baderna que se tornou a então famosa Romaria de Cavaleiros da Santa Cruz.
Confissões
Uma passagem interessante que o padre Charles conta do Padre Paiva é que ele, mesmo aposentado, fazia questão de receber os fiéis, durante a Quaresma, no confessionário tradicional, que hoje em dia nem é usado mais.
“No mutirão de confissões, na Quaresma, ele vinha, entrava no confessionário dele, os fiéis se aproximavam, se ajoelhavam, como antigamente, e se confessavam ao monsenhor Paiva”, comentou.
Antecessores
Antes de Charles Peron passaram pela Santa Cruz outros três padres que o antecederam e sucederam ao monsenhor Paiva depois de sua aposentadoria. Foram eles: padres Milton Modesto, primeiro, Tadeu Bonetti e José Siqueira. E Charles, antes de voltar a Mogi, assumiu a Paróquia de São Judas Tadeu, em Itapira, por cinco anos, e a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Jaguariúna, por três anos.
Vazio cheio
“Após a páscoa do monsenhor Paiva fica um vazio na vida das pessoas, sobretudo dos paroquianos. Mas um vazio cheio de carinho e boas lembranças, e ficam mais de 50 anos de ensinamentos, de partilha, enfim, de vida sacerdotal”, resume padre Charles.
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